A obra durou um ano. É o quarto projeto que Bertoldi assina para um casal com o qual já trabalhou em Curitiba e no Panamá. “Nossa proximidade facilitou tudo. Eu já conhecia os gostos, os hábitos, a rotina da família; eles também já sabiam como eu trabalhava, estavam familiarizados com meu estilo e iniciados no universo do design. Inclusive citando peças e profissionais que gostariam de ter”, revela.
E acrescenta, radiante: “Neste imóvel de 300 m², na Vila Nova Conceição, procurei lançar um olhar arquitetônico sobre os interiores, valorizar cada um de seus elementos. Penso que foi isso que acabou hierarquizando e realçando tanto o design dos móveis e acessórios”.
Hoje marcado por uma paleta de cores em tons sóbrios, por materiais como o pau-ferro e o limestone que unificam diversos ambientes, além de móveis ícones, garimpados em diversos cantos do mundo, pouco no apê remete à configuração original do imóvel, marcada por paredes irregulares e descontínuas, todas eliminadas pela reforma em nome de estruturas mais lineares e homogêneas. Igualmente determinante, a opção pelo uso de poucos materiais acabou imprimindo aos interiores um caráter minimalista, intensificado ainda mais pela presença de numerosos espaços vazios.
“Aqui, tudo o que é não ocupado, além de transmitir uma indiscutível sensação de leveza acaba por valorizar o mobiliário, colocando-o quase no patamar de obra de arte. São o que costumo chamar de ‘vazios ativos’, ou seja, espaços não preenchidos mas que acabam assumindo uma função decorativa no projeto”, explica o profissional.
Assunto de particular interesse do arquiteto, Bertoldi conta que quando pensa no mobiliário que irá compor seus trabalhos, analisa primeiramente as proporções, cores e materiais presentes em cada peça. Só depois pensa na época, no profissional que o assina e na relevância histórica de cada objeto. “Busco selecionar móveis que sejam referenciais nos contextos brasileiro e internacional, mas nunca perco de vista a harmonia do conjunto”, pondera ele.
Como consequência, o apartamento exibe uma salutar coexistência de móveis de autores de diferentes idades e origens. “Presenciamos uma valorização do design como não víamos há tempos. Grandes nomes tiveram o reconhecimento que lhes cabia, ao mesmo tempo em que uma nova geração despontou, já se fazendo presente e atuante”, observa ele, que se diz satisfeito por assinalar este momento histórico por meio do eclético acervo que compõe o projeto.
“Gosto de trabalhar com design e de transmitir aos meus clientes o que ele representa. Quando trabalhamos com peças assinadas, usufruímos do que seus criadores pensam, percebemos como interpretam o mundo, o que consideram belo. Tudo isso pode transformar o cotidiano e torná-lo ainda mais rico”, conclui.