Andreia Verdélio
Após ter poupanças confiscadas no Plano Collor, um grupo de amigos pernambucanos não conseguiu viajar para Recife (PE) em 1992, onde iriam curtir o bloco do Galo da Madrugada. Por isso, decidiram trazer o frevo para a capital federal e fundaram o bloco Galinho de Brasília. Em meio a uma nova crise econômica, neste ano o 25º carnaval do Galinho quase não se realizou. Para garantir o desfile, a organização precisou fazer uma vaquinha coletiva para ajudar com os custos da festa.
“Para fazer um Galinho como gostaríamos, seria algo em torno de R$ 800 mil. Conseguimos enxugar para R$ 260 mil este ano, otimizando tudo. As pessoas gostam do Galinho, o que nos ajuda. O bloco é referência em Brasília. Vamos usar essa prerrogativa para fazer um carnaval melhor em 2017”, disse Romildo de Carvalho Júnior, um dos criadores do bloco.
Segundo ele, mesmo com alguns patrocínios e o apoio do Governo do Distrito Federal com banheiros químicos e policiamento, a vaquinha continua aberta pela internet, de modo que o bloco consiga fechar as contas.
O bloco, já tradicional no Distrito Federal, saiu às ruas neste sábado (6) com a mesma proposta de quando foi criado, em 1992: um carnaval de raiz no ritmo do frevo. “Mas o Galinho não é só frevo. É maracatu, caboclinho, cavalo marinho, banda de pífanos, pastoril, papangus, folia de reis e bumba meu boi. São várias manifestações culturais e queremos fazer a recuperação desses valores para a cultura brasiliense”, acrescentou Romildo.
A taquígrafa Regina Célia disse que vir ao Galinho de Brasília já é tradição na família e todos os anos ela vem com os filhos. “É um bloco bacana, gente de todas as idades, principalmente famílias com filhos pequenos. É um tipo de carnaval que não vai sair nunca da raiz do povo brasileiro. Com as escolas de samba do Rio de Janeiro se elitizando cada vez mais, os blocos de rua são uma oportunidade para que todos possam participar, independente de questão financeira. Além de toda essa tradição do frevo, que é um carnaval mais animado”, afirmou Regina Célia.
“Nós estamos de Maria Lava Jato e sabemos sobre tudo o acontece lá no Congresso. Sou a Jujuzinha e estou esperando o japonês para me pegar”, informou o técnico em segurança do trabalho Eliézer Torres.
A fantasia dele e dos demais integrantes do grupo é uma referência à Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), que investiga desvio de recursos e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras. O japonês que Eliézer espera é o agente Newton Ishii, chefe do Núcleo de Operações da PF no Paraná, que aparece na mídia durante a escolta de alguns presos.
Segundo Elíezer, há mais de 15 anos ele e a família curtem o carnaval no Galinho. “Todo ano estamos com uma fantasia diferente e falando sobre o que está ocorrendo no Congresso [na política]. Todo ano fazemos uma crítica.”
A professora Mércia Cruz veio de Formosa (MG) para curtir o feriadão em Brasília. “Como nossa cidade não tem carnaval, viemos para o lugar mais próximo. Escolhemos o Galinho porque é um bloco tradicional, onde podemos brincar tranquilamente, já que não temos dinheiro pra desfilar no Galo da Madrugada”, brincou Mércia, que veio com a família vestidos de noivos.
O bloco Galinho de Brasília sai novamente na segunda-feira (8), a partir das 14h, na SQS 202, próximo à sede da Caixa Econômica Federal.
Agência Brasil