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Gigante, sempre

Vasco pode perder jogo, mas derrota racismo

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução/Fernando Quevedo, galeria do CRVG

Os meus amigos sabem que eu nasci em Botafogo, morei em Botafogo e sou Botafogo. No entanto, isso jamais me impediu de admirar a história do Vasco da Gama, que é, sem sombra de dúvida, o time que mais lutou contra o racismo no Brasil. No Rio, o Gigante da Colina é, com certeza, o verdadeiro time do povo. Aquele outro, que fica na Gávea, é o time da massa. Aliás, massa é aquilo que pode ser moldado à forma que os governantes desejam, ou seja, é facilmente manipulada. Já os vascaínos, geralmente, são pessoas combatentes, que se posicionam a favor das minorias.

Em Brasília, onde agora resido, quando penso no Vasco, a primeira figura que me vem à mente não é nenhuma das lendas que passaram pelo time: Ademir Menezes, Roberto Dinamite, Edmundo, Barbosa, Vavá, Romário… Todos esses e muitos mais tiveram passagens gloriosas por essa agremiação, é verdade. Todavia, desde a primeira vez que fui ao Maracanã com meu pai, que era vascaíno, ele me apontou para um cara meio fora de forma, mas que parecia ter muito mais disposição e agilidade que muitos atletas: “Aquele lá é o Santana!”

O Santana, o Pai Santana, um homem preto sempre vestido de branco, parecia ser mais importante que a maior estrela em campo, o Dinamite, naquela primeira vez que eu o vi. A torcida o saudava com gritos eufóricos. Todos ali amavam aquele homem, que era o massagista do Vasco. Aliás, massagista é muito pouco para tudo o que o Santana representava para o time. Ele era o amuleto, o curandeiro, o presidente, o papa, o dono da bola, sei lá. Todos no Maracanã sabiam quem era o cara. Até mesmo a torcida adversária sabia quem ele era.

Não dá para separar o Santana do Vasco ou, então, o Vasco do Santana. Até hoje não sei onde um termina e o outro começa. Talvez formem uma amálgama, um só corpo. Provavelmente seja por conta disso que, toda vez que vou ao Maracanã, até para assistir ao meu Botafogo contra outro adversário que não o Gigante da Colina, eis que ainda consigo enxergar aquela figura antológica correndo de um lado para outro. Ouço o grito das torcidas enaltecendo esse ser humano incrível, digo até imortal, que faz parte da história do Rio de Janeiro.

Para terminar, nem sei se o Santana já jogou bola. Talvez fosse até proibido de jogar, pois ninguém teria coragem de tomar a bola dele. Não que ele tivesse sido um craque, pois creio que nem soubesse fazer umas embaixadinhas. Todavia, todos o respeitavam! Todos! Aquele homem só poderia ter sido mesmo vascaíno, pois no Vasco, todos sabemos de longa data, as coisas são diferentes. Ali, o racismo não se cria! E todas aqueles que amam e conhecem o futebol sabem disso! Respeitem o Vasco!

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