As ruas do Recife, principalmente lá pelos lados do Marco Zero, serão invadidas neste domingo, 9, por uma multidão de passistas que se derrama em cores, suor e gingado, para comemorar o Dia do Frevo. A dança tomará conta do asfalto como um rio caudaloso de sombrinhas girando no ar. A cidade já pulsa, desde a véspera, no compasso sincopado dos clarins e trombones, embalando passos que desafiam a gravidade.
A história desse ritmo frenético remonta ao final do século XIX, quando as bandas militares, misturadas às troças carnavalescas, deram origem a uma cadência acelerada, quente, feita para não deixar ninguém parado. O frevo, que vem do verbo “ferver”, cresceu entre as ladeiras e becos, conquistou o coração do povo e, em 2012, foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Nas praças, nos becos e avenidas, ecoam os hinos eternos desse gênero inconfundível. “Vassourinhas”, com seus primeiros acordes estridentes, faz qualquer pernambucano estremecer. “Frevo Mulher”, na voz de Amelinha, transporta o espírito da festa para todo o país. “Hino do Elefante de Olinda”, “Hino da Pitombeira!”, “Madeira que Cupim Não Rói”, “O Homem da Meia-Noite”… cada uma dessas canções é um estandarte de alegria que se ergue no coração dos foliões.
Recife se entrega ao frevo como um amante apaixonado. Os passistas riscam o chão com movimentos impossíveis, dobrando-se, saltando, girando em coreografias que são pura explosão de energia e arte. Quem nunca viu um guerreiro do frevo dobrar-se sobre o próprio tornozelo sem cair, não conhece a magia dessa festa. No decorrer do dia até o início da noite, o Recife se consumirá na alegria da dança entre passos, sopros e batuques. Porque, como bem sabem os que já experimentaram essa vertigem dançante, no frevo ninguém caminha: todos voam. E este domingo será apenas um esquenta para o Carnaval que está chegando.