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Velha árvore gaúcha pode desembocar no Paranoá

O olhar desolado do meu amigo Marcio Petracco e dos cães ao redor era ainda mais flagrante do que o dos demais que frequentavam o cachorródromo do Tesourinha, ali no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Triste fim para o imponente guapuruvu, que tanta beleza levou para aquele lugar. Beleza, sombra e paz!

Não se sabe a causa mortis da árvore. Mas quem liga para uma árvore, quando milhões de outras são cortadas por este país afora? Sem falar das queimadas para abrir ainda mais pasto para o gado, seja na Amazônia, seja no Pantanal, seja no Cerrado, que periga acabar. Que vire deserto! Quem liga?

Dizem até que alguém pensou em chamar a perícia criminal, mas ninguém se atentou para a necessidade de um boletim de ocorrência. Aliás, pra que meter a polícia nisso? Era apenas mais uma árvore. Plante-se outra!

Olhares incrédulos, faces chorosas, todos ali, cada qual a seu modo, sentiram o baque. Nada mais do majestoso guapuruvu. Nada mais de conversas animadas aos seus pés ou raízes, como queiram. Daqui para frente, apenas recordações e fotografias tiradas, que irão desaparecer ao longo do tempo, cada vez mais desbotadas até que, por fim, ninguém mais se lembrará que ali, um dia, viveu um guapuruvu.

Tombou do alto dos seus quase 20 metros. A Defesa Civil foi acionada para desmembrar a enorme árvore, que jazia inerte no chão. Triste fim desse Policarpo Quaresma, que, mais uma vez, foi vencido pelas saúvas, como se todos os problemas do Brasil fossem as formigas.

Pobre guapuruvu. Ninguém reclamou o corpo. Talvez, vire canoa para algum navegante de última hora do Guaíba ou, não duvido, vá desembocar no Lago Paranoá, em Brasília.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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