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Moda

Velhas grifes voltam com modelitos de sucesso dos anos 90

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Autor/Imagem:
Vanessa Fridmann

Passei o último mês em uma dobra do tempo. Não o filme, como você pode ter pensado, mas no momento em que a moda está. Enquanto estava sentada nas salas de desfile, horas e horas, dia após dia, de cidade em cidade, do dia 7 de fevereiro a 7 de março, me senti numa viagem ao passado. Em um momento estava em 2018, e, no outro, em 1981 (ou 1985, ou 1988). Mas aí que está: eu já vivi essa época e não tenho certeza de que quero voltar.

Nos últimos tempos estamos falando muito da morte das tendências, ou pelo menos delas como conhecíamos, quando os estilistas pareciam ditar se as saias seriam curtas ou longas e as calças largas ou ajustadas – e a mensagem era repassada insistentemente pelas revistas e lojas. Agora, a moda se dividiu em um zilhão de subgrupos e subculturas e as redes sociais aproximam o consumidor de todo o processo. O resultado disso é uma infinidade de opções.

Desta vez, tudo parecia lembrar os anos 1980, década que vem ensaiando sua volta nos últimos dois anos. Mas, enquanto nas semanas de moda anteriores ela foi camuflada por outros estilos e influências, no último mês apareceu dominante. Os ombros foram a parte do corpo mais exaltada, frequentemente inflado com mega volumes (Marc Jacobs, por exemplo, apresentou um vestido de festa com ombreiras). Também tiveram muitas peles (falsas) e couros poderosos na Givenchy e em Tom Ford. Brilhos e paetês na Saint Laurent e na Balmain – que, junto com a Gucci e a Versace usou e abusou dos logos. Me senti como se estivesse perdida nos estúdios da Warner Bros e acabei no figurino do filme A Fogueira das Vaidades.

A trilha sonora também foi oitentista: Terence Trent D’Arby e Sade na Ferragamo, Tainted Love e Take On Me na Balmain, Let the River Run, de Carly Simon, na Thom Browne. Julie de Libran, diretora criativa da Sonia Rykiel, até reuniu o Bananarama (ao vivo!) para o aniversário de 60 anos de sua marca. Some aí as requisitadas calças com lavagem clara (Miu Miu), muito neon (Prada, Versace) e calça de montaria (Tom Ford).

Acho que devíamos ter esperado isso, dado a atual conjuntura política e cultural, que parece ter dirigido os pensamentos de todos os designers para a década de 1980. Por exemplo, o movimento #MeToo e a explosão global de mulheres pedindo igualdade e reconhecimento no ambiente de trabalho, além do fim dos assédios sexuais, fenômeno que, aparentemente, nos traz a memória do power suit em toda sua glória abotoada e com ombros marcados – a referência mais óbvia de uma armadura a ser colocada para o campo de batalha corporativo. E, por causa do movimento pró bem-estar, peças esportivas e calças legging, que tiveram seu auge na época em que a moda eram aulas de aeróbica, voltaram cores vibrantes, tecidos elásticos combinados com bodys.

Isso sem falar da volta de filmes e séries que faziam sucesso nos anos 1980 como Dynasty, Atração Mortal, Baywatch e Blade Runner, além do novíssimo Jogador Nº1, de Steven Spielberg, que é praticamente uma ode à década. E ainda o casamento real que está por vir, do Príncipe Harry com a atriz Meghan Markle, marcado para dia 19 de maio, nos lembra daquele famoso casamento em julho de 1981, que talvez tenha tido o vestido de noiva com as mangas mais bufantes da história.

Sei que sempre existiu um fascínio da moda com o estilo das décadas passadas, e, no momento, o desejo é agradar aos consumidores que não viveram os anos 1980, ou talvez eram jovem demais para lembrar deles – os millennials e a geração Z. Então, talvez, os designers estejam apenas oferecendo o que eles querem (ou o que eles ainda não sabem que querem).

Quero acreditar que estamos avançando, mas parece que estamos retrocedendo. Afinal, uma parte da estética oitentista é derivada das roupas de 1940, outra época em que as mulheres revolucionaram o mercado de trabalho (assim como os 1960 ecoaram os 1920, tempo em que a liberação sexual, a juventude e a liberdade era expressada por meio das roupas). Mas era tudo uma conexão conceitual, como uma ligação genética, não um clone. A década de 1980 de 2018 é quase literal e os looks parecem ter sido feitos para serem vistos por uma tela pequena.

Certamente existem novas ideias, como o scanner de corpo 3D e a tentativa de fusão tecido-modelo na Balenciaga, que parecia familiar, mas não era, ou no você acha que é um terno mas na verdade é moletom da Undercover. Ou então, nas ombreiras e nas capas com gravuras da Fendi e da Louis Vuitton, que saíram da mesma ideia, mas foram abstraídas em sua essência, fugindo do óbvio.

Se é verdade que estamos renegociando nosso mundo, nossas roupas, para serem realmente efetivas, precisam fazer o mesmo. Sei que somos produto da nossa própria história e a moda é construída justamente neste mergulho, se apropriando de um estilo aqui, uma silhueta acolá. Também é econômico ‘comprar’ no nosso próprio guarda-roupa, cheio de memórias incrustadas. Mas este não deveria ser o ponto.

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