Pedro Venceslau, Juliana Diógenes, Thiago Faria
Conhecido por ser um partido que define suas diretrizes em um colegiado pequeno de quadros, o PSDB enfrenta um descolamento entre sua cúpula e as bancadas na Câmara e no Senado. Os senadores Aécio Neves, José Serra, o governador Geraldo Alckmin e o ministro Aloysio Nunes Ferreira, que defendem a permanência da legenda no governo, perderam o controle sobre os parlamentares da sigla.
Pelo placar atual, 14 dos 46 deputados do PSDB dizem que vão votar a favor da admissibilidade da denúncia da Procuradoria-Geral da República. Apenas três votarão contra e 30 estão indecisos ou não quiseram responder.
A contabilidade interna, porém, é mais dramática para os governistas. “A maioria quer que o partido entregue os cargos. Mas não iremos para a oposição e apoiaremos as reformas”, disse o líder tucano na Câmara, Ricardo Tripoli (SP). Para evitar o desgaste de uma reunião da Executiva tucana em Brasília para deliberar sobre a permanência ou desembarque do governo, os tucanos “históricos” articulam um encontro reservado em São Paulo nesta segunda-feira.
A tensão no partido atingiu seu ápice após o presidente interino, senador Tasso Jereissati (CE), dizer que o País “beira a ingovernabilidade”. A declaração irritou Temer e seus aliados tentaram convencer os governadores tucanos a divulgarem uma nota de repúdio.
Apesar da maioria dos sete governadores do PSDB estar alinhada com o presidente Michel Temer, a ideia não vingou. Quem acabou fazendo a réplica então foi o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. Ele escreveu no Twitter que “nem Lula nem Dilma tiverem esse tratamento de nossa parte quando éramos oposição”.
Isolamento. Um dos aliados mais próximos de Aécio, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) repetiu, ontem, o discurso que cresce no partido: o de que chegou a hora de os tucanos desembarcarem do governo Temer. A posição de Cunha Lima isola cada vez mais o mineiro, que retomou o mandato nesta semana com um pronunciamento em defesa da manutenção do apoio a Temer.
Presidente interino do Senado enquanto o titular, Eunício Oliveira (PMDB-CE), substitui Temer no Palácio do Planalto, Cunha Lima afirmou que será o PMDB, e não o PSDB, o responsável por um eventual fim precoce da atual gestão.
“Podemos estar diante do início do fim com a posição do deputado-relator da denúncia na CCJ da Câmara, que é do PMDB. Porque o presidente Michel Temer não tem nenhum apoio popular, não tem apoio de setores organizados da sociedade, se sustenta basicamente com apoio parlamentar. Se no seu próprio partido esse apoio estremece, é claro que podemos ter um efeito dominó, que poderá levar a um colapso com o desfecho do acolhimento da proposta do procurador-geral (Rodrigo Janot)”, afirmou Cunha Lima, em referência à votação sobre o acolhimento da denúncia contra Temer na Câmara.
Disputa – Segundo ele, o PSDB não pode “virar as costas” para a sua base e deve ouvir os deputados, hoje maioria pelo desembarque. “É o momento de o partido ouvir não os caciques, mas os deputados, que estão no enfrentamento cotidiano do problema e devem ser respeitados”, disse Cunha Lima.
Tripoli também saiu em defesa do presidente interino da legenda. “O Tasso está verbalizando aquilo que pensa a maioria das bancadas no Senado e na Câmara. Isso vai na contramão do que o Aloysio está falando.”
Discordância – Já o prefeito de São Paulo, João Doria, foi no sentido contrário “Entendo que o PSDB, para tomar uma medida, deve construir isso dentro de uma reunião. Não creio que apenas o presidente, ainda que com todo respeito que devemos ao senador Tasso Jereissati, possa tomar uma decisão dessa natureza individualmente”, afirmou
Apesar de defender a permanência do PSDB no governo, Alckmin evita dar declarações contundentes. “É evidente que o quadro político foi agravado, temos um quadro bastante grave. Mas temos de separar bem as questões políticas das questões de interesse do País”, afirmou o tucano.