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Venerar reencarnação já era notada antes mesmo de Jesus chegar à Terra

Embora o Cristianismo tenha se originado como uma religião aberta e universal, ele se desenvolveu em um mundo repleto de tradições misteriosas e esotéricas, especialmente no Oriente Médio e no Mediterrâneo. Algumas dessas influências incluem os cultos de mistérios da Antiguidade influenciaram práticas e simbologias do Cristianismo, especialmente nos primeiros séculos. Por exemplo temos os Mistérios de Eleusis (Grécia), culto dedicado a Deméter e Perséfone envolvia iniciações que simbolizavam a morte e o renascimento. A ideia de renascimento espiritual ecoa no batismo e na ressurreição de Cristo. O Mitraísmo (Roma e Pérsia), culto popular entre soldados romanos, que compartilhava símbolos com o Cristianismo, como o banquete ritual e a ideia de redenção através de um salvador. E o Culto de Ísis (Egito) no qual a devoção à deusa Ísis, que também simbolizava compaixão e a vitória sobre a morte, pode ter influenciado elementos da veneração de Maria no Cristianismo.

O Gnosticismo foi um movimento religioso e filosófico que coexistiu com o Cristianismo nos primeiros séculos, muitas vezes em conflito direto, mas também com influências mútuas. Ele tem como características a ênfase no conhecimento espiritual (gnose) como caminho para a salvação, o Dualismo entre o espírito (bom) e a matéria (má) e mitologias complexas sobre a criação do mundo e a luta entre forças divinas e demoníacas. Sua influência no cristianismo são observados em alguns textos gnósticos, como os encontrados em Nag Hammadi, que mostram interpretações alternativas de Jesus e seus ensinamentos. Apesar de ser combatido como heresia, o Gnosticismo influenciou a espiritualidade e a teologia mística cristã.

Os Essênios eram uma seita judaica ascética e iniciática que existia no tempo de Jesus, conhecida por suas práticas comunitárias e espirituais. Eles tinham práticas semelhantes ao cristianismo como o batismo, vida comunitária e expectativa de um Messias. Muitos estudiosos sugerem que Jesus ou João Batista podem ter tido contato com os Essênios. Os Manuscritos do Mar Morto são associados aos Essênios, revelam ideias escatológicas e apocalípticas que ecoam em partes do Novo Testamento.

O Hermetismo, baseado nos escritos atribuídos ao mítico Hermes Trismegisto, foi uma tradição esotérica influente no mundo helenístico. Os conceitos herméticos como a unidade de Deus, a busca pelo conhecimento espiritual e a ideia de que o ser humano é uma imagem divina, com potencial para alcançar a imortalidade influenciaram a filosofia cristã. Observamos alguns elementos do pensamento hermético encontrados na teologia mística cristã, como no trabalho de Clemente de Alexandria e em textos neoplatônicos cristãos. Durante a Idade Média a Alquimia, Tradições Místicas Medievais e outras tradições esotéricas frequentemente se fundiram com o Cristianismo, explorando a transformação espiritual e o simbolismo cristão.

Os Templários, uma ordem militar e religiosa criada durante as Cruzadas, foram associados a práticas esotéricas e a conhecimentos secretos, apesar de sua missão oficial ser proteger os peregrinos na Terra Santa. Templários, alquimistas, magos, e livres pensadores foram se agregando em sociedades secretas para sobreviverem ao massacre imposto por Felipe, o Belo. O uso da Bíblia Cristã e seu estudo tornou-se comum nessas sociedades, bem como o estudo dos clássicos da antiguidade e todas as descobertas que surgiram até então. À medida que a invasão cruzada vai acontecendo, novos conhecimentos vão sendo agregados nessas sociedades, da mesma forma que o período árabe na península Ibérica trouxe luz diante do controle brutal do pensamento humano exercido pelos papas cristãos da época. Esse amalgama de conhecimentos vai produzindo pensadores que moldarão a forma do cristianismo, como Spinoza por exemplo.

Posteriormente temos associações como a Fraternidade Rosa-Cruz. Embora tenha emergido no século XVII, sua simbologia e ideias alegam herdar tradições esotéricas e herméticas que remontam à antiguidade e ao início do Cristianismo. A Rosa-Cruz buscava a integração de misticismo cristão com filosofias esotéricas. Promovia a ideia de um Cristo cósmico e um caminho iniciático de iluminação.

Outros movimentos, como as Ordens Iniciáticas e Místicas Cristãs dos Franciscanos e Dominicanos, Cátaros e o Misticismo Alemão (Meister Eckhart) buscaram resgatar o misticismo e o ascetismo cristão. Os Cátaros forma considerados um movimento herético medieval com influências gnósticas e dualistas. Eles foram um movimento religioso cristão dualista que rejeitava a Igreja Católica e promovia uma vida ascética e espiritualizada. Seu florescimento no sul da França foi interrompido pela Cruzada Albigense e pela Inquisição, que os exterminaram quase completamente. Apesar disso, sua mensagem de pureza, liberdade espiritual e oposição à autoridade eclesiástica continua a ressoar como uma história de resistência e idealismo espiritual.

Essas influências mostram que o Cristianismo se desenvolveu em diálogo constante com tradições esotéricas, filosóficas e iniciáticas do mundo antigo e medieval, muitas vezes incorporando, reinterpretando ou rejeitando essas ideias em sua própria evolução.

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Marco Mammoli é membro conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas – @colegiodosmagosesacerdotisas

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