Brigar por política no atual cenário é o mesmo que ter uma crise de ciúme na Zona do Baixo Meretrício. Li essa frase em um desses memes do zap zap e, pela coerência com a quadra vivida, imediatamente a chamei de minha. Não é, mas, por sua grandeza e profundidade, é como se fosse. Estamos – pelo menos eu estou – diante de uma encruzilhada sem esquina. Ainda não sei se parto para a ignorância política e voto naquele que mais se aproximou da pecha de pai dos pobres ou se dou uma de abestado consciente e opto pelo velho e sempre votado Macaco Tião. Por enquanto, a única certeza que me salta da alma é a vontade de mudar, de ser governado por alguém que saiba governar. O resto vem com o tempo.
Quero voltar a me orgulhar do gentílico brasileiro. Preciso esquecer rapidamente que habito uma pátria onde o grau de periculosidade aumenta quando o suposto protagonista comprovadamente não tem preparo algum para conduzir um velocípede. Imagina um avião cargueiro como o Brasil. Felizmente os ditos antipetistas estão acordando na mesma proporção que os bolsonaristas raiz e raivosos estão morrendo de Covid-19 ou de inanição. No português periférico, estão desmilinguindo a olhos nus, isto é, sem o auxílio de lentes ou de instrumentos ópticos. Parece que, finalmente, o povo entendeu que Lula pode até ser ruim, mas Bolsonaro já provou que é muito pior.
Por falar no símio Tião, a impressão que tenho é que deram a arma na mão de um ser irracional e ele saiu atirando a esmo para matar quem não lhe desse atenção. Mestre em produzir conflitos, o governo bozolítico se esmera em confusões. Aliás, de confusão em confusão, o governo vai caminhando para o buraco negro do ostracismo político. Os recentes desmoronamentos em São Paulo, infelizmente com quase 30 vítimas fatais, são a prova inconteste de que toda casa antes de cair começa com algumas rachadinhas. A iminente derrota mostra que o cadafalso já foi ultrapassado.
Especificamente sobre o pleito de outubro próximo, a percepção é clara: há uma invocada e mal-humorada corrente de eleitores insatisfeitos com o governo. E ela fará a diferença. Por absoluta falta de concorrentes capazes, Luiz Inácio deve vencer a terceira eleição presidencial das cinco que já disputou, apesar dos erros que a maioria dos petistas extremados não admite. Inegável que teve muita coisa boa no período de domínio da esquerda, principalmente para as classes menos favorecidas. O que todos esperam é que, ganhando de fato e de direito, faça um governo melhor do que os dois anteriores.
Expectativas à parte, poucos têm dúvida de que será uma administração infinitamente melhor do que o desgoverno de Jair Bolsonaro. Pelo menos não haverá medos ou ameaças como a que ouvi logo cedo no rádio do carro. Estimulados pelo aumento anunciado, mas que não virá, policiais civis do Distrito Federal cobram do governador Ibaneis Rocha um posicionamento a respeito da reivindicação salarial. Por meio de um spot pago, a categoria ameaça entregar a cidade ao crime organizado caso não seja economicamente reconhecida. E saibam que tanto os civis quanto os militares fazem parte de uma casta policial. São os maiores salários de uma nação com cerca de 14 milhões de desempregados e mais de 20 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar, também conhecida como fome.
Há coisa muito pior do que a ameaça barata dos policiais brasilienses. Presidente da Câmara Federal, o deputado Arthur Lira (PP-AL) acusou um juiz por excesso de interesse em julgá-lo por supostos desvios na Assembleia Legislativa de Alagoas. Tratava-se somente de um magistrado querendo cumprir com seu dever. O resultado prático comprova a quem o Brasil está entregue: com apenas um grito, Lira conseguiu afastar o juiz Alberto Jorge Correia de Barros Lima, da 17ª. Vara Cível de Maceió, e ainda anulou os atos do processo de improbidade contra ele. Coisas de um país comandado por soldados de puliça e gerenciado por craques em fake news. A principal delas foi inventar um presidente que, no máximo, sabe o que é ser deputado federal. Que os ventos de outubro soprem rápido em outra direção.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978