Paixão sem chuvas
Veranico cria nova alta estação no Nordeste em plena semana santa

Não era para ser assim. Abril no litoral nordestino costuma vir tingido de nuvens, com um céu cinza-chumbo que despeja chuvas persistentes, daquelas que parecem querer lavar até a alma dos moradores. As previsões meteorológicas alertavam: o fenômeno El Niño poderia tornar o período ainda mais chuvoso do que o normal. Mas neste ano, contrariando mapas, satélites e históricos climatológicos, o céu resolveu dar uma trégua. Como se atendesse a um pedido silencioso feito entre um trovão e outro, ele abriu um sorriso azul, desfez as nuvens e deixou o sol reinar de novo.
Com a pausa inesperada das chuvas, o litoral vestiu-se de verão fora de época. A areia voltou a esquentar os pés, os guarda-sóis floresceram nas praias como flores de cores vivas, e o mar, agora mais calmo, convida a mergulhos demorados. É como se uma segunda alta temporada tivesse sido inaugurada às pressas, uma edição extraordinária do verão, com direito a céu limpo, brisa morna e pôr do sol dourado.
Coincidência — ou presente bem calculado — foi isso acontecer justo na Semana Santa. A combinação entre o feriadão prolongado e o tempo bom fez os hotéis lotarem, os quiosques renascerem das calmarias e o comércio local respirar aliviado. Turistas chegam de toda parte: famílias de carro pela BR, mochileiros com celulares em modo selfie e casais fugindo do concreto das cidades grandes. As praias de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte ganharam vida — uma vida cheia de cor, de movimento e de cheiro de protetor solar.
Comerciantes sorriem com o movimento, crianças correm entre castelos de areia, vendedores ambulantes voltaram a cantar seus pregões e o vento, mesmo fora de época, parece soprar promessas de renovação. Restaurantes estendem seus horários, barracas de tapioca e água de coco não dão conta da demanda. É como se o litoral nordestino tivesse sido rebatizado, por alguns dias, de “novo verão”.
As chuvas, sempre donas da agenda nesta época, foram colocadas em espera. Em troca, ganhamos esse breve intervalo de luz. Uma pausa que trouxe calor, gente na rua, lembranças sendo feitas e um clima de recomeço. Talvez seja só sorte climática. Talvez um aviso de que até o tempo sabe surpreender. Mas, no fim das contas, há mais do que um feriado de sol. É um respiro para o corpo, para a economia e para a alma.
