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Verdade nua e crua entre realidade política e expectativa do eleitor

Para baiacus, pilombetas e barnabés, viver no Brasil realmente está pela hora da morte. Para reajustar o salário-mínimo, hoje valendo R$ 1.412,00, o Congresso Nacional precisa validar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, cuja tramitação leva mais tempo que o parto de uma égua, com duração mínima de 330 dias e máxima de 350 dias. Isso quando há entendimento sobre os extras das excelências. Ou seja, para o trabalhador mais simples, pau no lombo, xingamento, ameaça e fogo nas ventas.

Quando muito, um sanduíche de mortadela e um refresco de laranja para aplaudir quem não merece mais do que vaias e ovos podres. Para os que se elegem à custa da ingenuidade ou da necessidade alheia, tudo, inclusive o suor e o sangue da ralé. Craques na arte de legislar em causa própria, deputados e senadores, com salários de R$ 46,3 mil mensais, normalmente aprovam seus reajustes a toque de caixa. Às vezes, nem precisa da caixa. É o caso da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Esta semana, em votação simbólica, 22 dos 24 representantes do povo brasiliense precisaram de apenas 16 segundos para confirmar o novo salário de R$ 34,7 mil, 75% dos subsídios dos deputados federais. Defensor incansável dos bons, estejam eles onde estiverem, não tenho vocação para perseguidor de pessoas nocivas ao país, mesmo aquelas com peçonhas na língua, nas palavras e nas ações, mas com vestimentas de cordeiros com câimbra. Por isso, não me cabe julgar os chamados homens públicos, a maioria tida com príncipes da tragicomédia.

Como me tiraram até a graça, também não consigo mais fazer piada com eles. O que sei é que, caso a justiça dos homens falhe, a de Deus um dia os punirá. E não haverá banca de advogado capaz de salvá-los ou aliviá-los da pena máxima: o umbral. Não os julgo, mas compartilho da tese de Joaquim Nabuco, para quem “a classe política parece ter contraído, na bancarrota das promessas e dos compromissos, a faculdade de tornar-se insensível diante da miséria alheia”. Entre os políticos não há meio termo: a realidade deles está anos luz distante das expectativas dos eleitores. Eis a razão pela qual desde a campanha o candidato a político não passa de um número.

Com alguma preocupação a respeito da minoria que não se inclui na lista dos maus políticos, lembro da melhor frase já escrita para definir Brasília, mais especificamente o Congresso e o Palácio do Planalto. Na comemoração de seus 102 anos, Oscar Niemeyer cunhou a expressão que todo brasileiro mais sério gostaria de ter cunhado: “Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá foi como criar um lindo vaso de flores para vocês usarem como penico. Hoje eu vejo, tristemente, que Brasília nunca deveria ter sido projetada em forma de avião, mas sim de camburão”.

Será justo um parlamentar federal ganhar R$ 46,3 mil mensais? O que ele produz para merecer tudo isso? Quem souber, me avise. Quem sabe eu encontre argumentos que me impeçam de continuar escrevendo sobre a desnecessidade desse tipo de homem público. Afinal, em um país onde a lei vale tanto quanto uma Cibalena vencida, qualquer segmento social pode se unir para trabalhar contra o povo, negociar vantagens pessoais, livrar parceiros da cadeia, encomendar incêndios, chamar presidentes de ladrão ou de corruptos, atiçar cidadãos ingênuos para quebrar prédios públicos, requerer impeachments de ministros do Supremo Tribunal e desqualificar a urna eletrônica, hoje, queiram ou não, um dos mais conhecidos produtos nacionais.

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