Verônica ainda não contava com seis outonos quando largou os brinquedos que nunca teve e começou a labutar. Da vassoura passou para o pano de chão, aprendeu logo a ajudar na cozinha e nos afazeres da casa onde sua mãe trabalhava como doméstica. Os calos em suas pequenas mãos a tornaram dura com o passar dos anos, enquanto os filhos da patroa se formaram e contribuíram para dar sustento à tal meritocracia.
Aos 16, enterrou a genitora, acometida por males da pobreza. A velha patroa, que alardeava pelos quatro cantos que a falecida era da família, parece que não pensava o mesmo sobre a agora órfã. Não teve dúvida e a despachou sem o menor remorso.
Sem ter para onde ir ou parentes que a acolhessem, se viu no olho da rua. Passou frio, passou fome, passou por perigos inimagináveis para os que adormecem em berços esplêndidos. No entanto, a despeito das nefastas probabilidades, sobreviveu. Não se sabe ao certo como.
Aqui não vale mencionar os trabalhos realizados pela quase menina, agora quase mulher. Dos mais antigos até os mais simples, como, por exemplo, garçonete em restaurante de quinta categoria. Serviu e foi servida como prato do dia ou da semana passada. Iguaria, na certa, é o que não era. Não mesmo!
Labutou, labutou, labutou por anos a fio. O que não poderia deixar de fazer era labutar, mesmo porque agora, aos quase 20, não estava mais só. Precisa alimentar o pequeno Joaquim, fruto de um amor qualquer. Dessa incerteza, restou certidão com pai não declarado. Que fosse assim.
O tempo passou, o moleque cresceu parrudo às custas do suor de Verônica. Ele estudou um tanto, o suficiente para não se deixar enganar pela vida. Tanto é que, aos 13, foi descoberto por um olheiro de um grande time. Com isso, já nas categorias de base, faturava muito mais do que a sua mãe conseguia esfregando chão pelas casas das madames.
Por conta de tanto dinheiro, Joaquim, agora aos 16, estava prestes a assinar um contrato milionário com um time da Europa. Pois é, o rapazola iria ludibriar os marcadores pelos gramados do Velho Mundo. Por isso, não teve dúvida e, mesmo a contragosto da orgulhosa mãe, quis porque quis que ela se aposentasse.
Verônica, que durante toda sua carcomida vida havia labutado mais do que a maior parte de todos nós, ainda assim pensou em pendular sua cabeça. Todavia, já exausta, acenou positivamente para o filho. Aposentou-se!
A mulher, apesar de vislumbrar uma vida de luxo que passou a viver, começou a se incomodar com a barriga, que parecia dar sinais de querer crescer. Como dinheiro é o que não faltava, tratou logo de contratar um personal trainer.
Já na primeira aula, surgiu uma desavença entre Verônica e Diego, o tal personal. Pois é, diante de tantas ordens para pular, correr, levantar pesos, esticar daqui, esticar dali, houve o seguinte interlúdio.
– Chega!
– Verônica, você precisa trabalhar essa região para perder essa barriguinha.
– Diego, você não tá entendendo. Eu sou aposentada. Só faço o que eu quero!