Se tem uma torcida que vai estar muita atenta ao que o seu ídolo fará no GP de Mônaco, dia 25, próxima etapa do campeonato, é a do alemão Sebastian Vettel, tetracampeão do mundo, piloto da Red Bull.
O desempenho espetacular de Vettel domingo, no GP da Espanha, em Barcelona, e as características únicas dos 3.340 metros do Circuito de Monte Carlo fazem com que os seus fãs alimentem fundamentadas esperanças de vê-lo quem sabe até mesmo lutar pela vitória, como tantas vezes fez nos últimos quatro anos. A impressionante superioridade da Mercedes, este ano, tende a ser menor na sexta etapa do calendário.
Um dado, apenas, já expressa, com precisão, o que Vettel fez no Circuito da Catalunha: largou em 15.º e recebeu a bandeirada em brilhante quarta colocação. E tinha contra si elementos que de fato interferem na possibilidade de uma grande performance: foi o piloto que menos andou todo o fim de semana. No início do treino livre de sexta-feira enfrentou problemas com a transmissão e não mais regressou à pista, nem na sessão da tarde.
Na classificação, sábado, uma pane elétrica no Q3 o impediu de registrar seu tempo e, para não encerrar os inconvenientes, perdeu cinco colocações no grid em razão da troca do câmbio, fazendo cair de décimo para 15.º.
“Eu me diverti bastante”, disse Vettel. “Fiquei bem satisfeito com o comportamento do carro na corrida, diferentemente das provas anteriores.” Adrian Newey, diretor técnico da Red Bull, coordenou os estudos que introduziram no modelo RB10 novos componentes do conjunto aerodinâmico. Rob White, diretor técnico da Renault, fez o mesmo para o fornecimento de uma versão bastante modificada da sua unidade motriz, o motor V-6 Turbo e os dois sistemas de recuperação de energia.
Diante da possível retomada de Vettel proporcionada pela evolução do modelo RB10 e da unidade motriz da Renault, bem como por dispor de um novo chassi, a luta com Daniel Ricciardo, o seu companheiro, já a partir do GP de Mônaco deverá ser bem mais desafiadora para o jovem e competente australiano.
“Sebastian fez um grande trabalho aqui. Ainda não assisti à prova, mas via as placas (expostas pelos mecânicos, no muro da pista) que mostravam sua ascensão na corrida”, falou Ricciardo, depois da bandeirada. Já o diretor da Red Bull, o inglês Christian Horner, comentou: “Sebastian readquiriu a confiança que estava lhe faltando”.
As reações pouco equilibradas da versão inicial do RB10 permitiam a Ricciardo tirar mais do carro que Vettel, segundo o alemão explicou ao UOL Esporte na China. Para descartar a existência de algo no chassi de Vettel, a Red Bull lhe deu um novo em Barcelona. E nesse quesito as opiniões entre o piloto e a equipe de contrapõem: “Senti que fez diferença”, afirmou Vettel.
Nesta quarta-feira, a Red Bull informou não ter encontrado evidências de problemas no chassi usado pelo alemão nas quatro primeiras etapas. Mas, como lembrou Horner, a confiança é tudo para um piloto na F1 e com o novo chassi Vettel se sentiu mais à vontade, o que ajuda a explicar o trabalho excepcional no GP da Espanha.
Os números a favor de Ricciardo até agora, com exceção no que mais importa, a classificação no Mundial, podem começar a mudar se Vettel ratificar o que se espera dele a partir da corrida no Circuito de Monte Carlo. No placar por quem larga na frente a vantagem é do australiano, 3 a 2.
E em corrida, nas três últimas, as que ambos terminaram, Ricciardo se impõe de forma inquestionável, 3 a 0. Há contra si a desclassificação na Austrália, quando perdeu os 18 pontos do segundo lugar por irregularidade no consumo de combustível, e as dificuldades na Malásia, prova em que a equipe o liberou dos boxes sem ter prendido a roda dianteira esquerda. E o erro da Red Bull lhe custou, ainda, a perda de dez posições no grid na etapa seguinte, Bahrein.
Com tudo isso, Ricciardo está atrás de Vettel na classificação do Mundial, quinto, com 39 pontos, diante de 45 do alemão, quarto. Os líderes, muito distantes, são Lewis Hamilton, da Mercedes, vencedor das quatro últimas provas, com 100 pontos, seguido por Nico Rosberg, seu companheiro, com 97. Fernando Alonso, da Ferrari, é o terceiro, com 49.
Mas como os pilotos costumam assistir, depois, às imagens das corridas a fim de estudá-las, Ricciardo viu, em Barcelona, um Vettel correndo com a faca entre os dentes. E sua capacidade extraordinária de reação é conhecida na F1. Com certeza não iria aceitar que parte da torcida passasse a questionar suas imensas qualidades por estar perdendo a disputa com um novato, Ricciardo.
O recado foi também dado ao australiano, que viu Vettel, por exemplo, realizar manobras espetaculares, como a ultrapassagem sobre Kimi Raikkonen, da Ferrari, na 56.ª volta de um total de 66, para assumir o quinto lugar. Não é tudo: a ultrapassagem sobre Valtteri Bottas, da Williams, na 63.ª volta, a fim de ser o quarto, a forma como se impôs na curva 1, quando disputou com Alonso, que saía dos boxes, para ganhar sua posição e ser o sexto àquela altura, 53.ª volta.
A determinação demonstrada por Vettel para ganhar o oitavo lugar de Kevin Magnussen, da McLaren, na 37.ª volta, e o 11.º de Felipe Massa, Williams, na 36.ª foi marcante.
A estratégia ousada de três pit stops exigiu que Vettel mantivesse ritmo semelhante ao das voltas lançadas na classificação a maior parte da corrida, como tanto aprecia e melhor se apresenta, tendo ainda de preservar os pneus Pirelli duros e médios usados domingo. Os três primeiros colocados na Espanha, Hamilton, Rosberg e Ricciardo realizaram apenas duas paradas.
A fase de ascensão de Vettel chegou numa boa hora. Historicamente carros que estão se impondo na temporada, como a Mercedes este ano, enfrentam dificuldades para vencer o GP de Mônaco e até mesmo não o vencem. Em 1992, Nigel Mansell, da Williams-Renault, vinha ganhando tudo. Mas no Circuito de Monte Carlo quem jantou com o príncipe, então Rainier III, hoje Albert II, foi Ayrton Senna, com McLaren-Honda, como manda a tradição do evento para o primeiro colocado.
No ano seguinte, Alain Prost tinha no modelo FW15C-Renault da Williams um carro muito mais veloz que todos os demais. Mais uma vez Senna surpreendeu a Williams em Mônaco, desta vez com McLaren-Ford. Em 2000, ninguém imaginava que Michael Schumacher, da Ferrari, poderia não vencer a prova. Mas David Coulthard, da McLaren-Mercedes, mostrou ser possível. A vantagem da Ferrari de Schumacher era imensa em 2004, mas quem celebrou a vitória foi Jarno Trulli, da Renault, dentre outros exemplos.
Portanto, se há uma etapa em que Vettel, bem como os demais pilotos, podem surpreender a Hamilton e Rosberg é na próxima do calendário.