Nasceu em Recife, na bela Recife. Seus pais olharam para aqueles enormes olhos de jabuticaba e não tiveram dúvida: “Lindinaldo!” Até hoje, ninguém descobriu o porquê de tal associação, mas não se pode discutir certos costumes familiares, seja lá eles quais forem. O menino cresceu magrelo como um cabo de vassoura, e foi com ela que começou a dar seus primeiros passos, bem ali na varanda da casa, imitando os cantores que via nos filmes de época. “Cadê a vassoura, peste?”, a mãe gritava esbaforida, até encontrar o menino soltando a voz agarrado à imitação de microfone.
Aos 21, tentou São Paulo, a gigantesca São Paulo. Ele rodou a metrópole com ares de curiosidade, tudo era novo, tudo era aprendizado. Aquele mundo tão múltiplo contrastava com os tempos vividos na sua cidade. Agora, aquele rapaz possuía a liberdade de ser ele mesmo, mas a timidez, talvez, não o tivesse abandonado por completo. Mesmo assim, rodou o mundo em Sampa, conheceu cada beco, inúmeras esquinas, tão diversas. Trabalhou, trabalhou, trabalhou. A voz, quase muda, arriscava uma nota ou outra na hora do banho. Tentava resgatar as doces lembranças da infância, quando bastava surrupiar a vassoura da mãe para se rebelar por completo. Faltava algo!
Chegou ao Rio três anos após. Logo revisitou o mar, que havia abandonado quando saíra da cidade natal. Ali, diante da praia de Copacabana, mudou seu nome: Lindynaldo! Passou por alguns empregos, onde sempre se destacava por sua rigidez profissional. Os colegas o taxavam de sério; aliás, muito sério. Todavia, bastava colocar os pés fora do escritório, que algo o tornava tão doce, que todos se aproximavam dele.
Diante da praia de Copacabana, a liberdade que sentiu fez a sua voz fluir com a maresia. Deixou suas coisas com o galego de olhos azuis ao lado e foi dar um mergulho nas ondas. Voltou renovado, certo de que algo iria mudar em sua vida.
Arriscou, certa noite, diante de uma máquina de karaokê. Inicialmente, o som saiu muito tímido, quase não chamando a atenção das poucas pessoas presentes, espalhadas pelas mesas. Já na segunda frase, pensou em desistir, até que seus enormes olhos negros se cruzaram com os mesmos olhos azuis da praia, agora sentado quase ao fundo, que lhe sorriu. Isso foi mais do que o suficiente para que ele resgatasse aquele ladrãozinho de vassoura e soltar a voz como nunca havia feito. Naquele local improvável, nasceu o artista, o cantor. Divisor de águas, divisor de nome: Lindy Naldo.
O Lindynaldo ainda mora no Rio de Janeiro, ali em Copacabana. Ele continua trabalhando no escritório, onde todos continuam reclamando da sua rigidez. Seus colegas o chamam de Naldo, mas, ao transpor a porta do escritório, ele se transforma no Lindy Naldo. E assim é a vida desse artista da noite carioca, que, como tantos outros, precisa se desdobrar em dois para continuar fazendo a alegria dos seus fãs.