Muita calma nessa hora
Vida de bicho no Zoo é como de gente na hora de tratar da doença
Publicado
emMariana Damaceno
Foram cerca de duas horas de cirurgia com acompanhamento de uma equipe multiprofissional até Rabisco ter um dos dentes completamente restaurado. O cuidado, que no caso dele começou dias antes, com a programação do procedimento, não é exclusividade do tigre e se estende a todo o plantel da Fundação Jardim Zoológico de Brasília.
Rabisco a princípio passaria apenas por uma endoscopia e exames gerais de rotina, mas a equipe percebeu que ele precisava fazer um canal para recuperar uma das presas superiores, o que ocorreu em 25 de julho.
O diretor de mamíferos do zoo, Filipe Reis, conta que em grande parte das vezes os problemas de saúde são percebidos pelo tratador, que tem contato próximo com os bichos.
É quem cuida diariamente do animal que avalia se ele se alimenta normalmente, se o comportamento mudou ou se há realmente algo de errado.
Além de tratar problemas pontuais, todos os bichos passam por exames de rotina com frequência.
A equipe multiprofissional que cuidou de Rabisco e de outros quatro felinos em julho é formada por veterinários, biólogos, zootecnistas e tratadores. Um especialista em saúde bucal veio da Universidade de São Paulo (USP) para ajudar o grupo.
O planejamento para grandes intervenções começa com dias de antecedência. No caso dos grandes felinos, envolveu cerca de 48 horas de jejum, para não atrapalhar a anestesia, e um manejo cuidadoso no caminho do recinto até o hospital veterinário do zoo.
Durante o procedimento, outro especialista avalia os batimentos cardíacos e como cada bicho se comporta. “Tratar um animal selvagem é diferente de um doméstico. Então, aproveitamos que temos de usar a anestesia para fazer logo uma avaliação geral”, explica o veterinário da USP Roberto Fecchion.
Uma observação minuciosa no pós-operatório também é importante. É preciso, dependendo do caso, mudar a alimentação até que o animal melhore e fazer um acompanhamento veterinário mais rigoroso.
Beiçola é um macaco-prego com idade já avançada. Há mais de um ano, ele é um dos que vivem sob atenção do hospital veterinário do zoológico.
Rejeitado pelo grupo, o pequeno primata apanhou algumas vezes dos companheiros e após uma das brigas chegou a perder parte da língua.
Hoje, ele é acostumado ao cuidado humano. “Ele já foi [para o recinto com os outros macacos da mesma espécie] e voltou várias vezes, mas não se adapta”, pontua a veterinária da fundação Fernanda Fontoura.
O espaço também trata de Joe, um bugio fêmea que foi resgatado com a cara desfigurada e precisou passar por uma reconstrução facial. Ele ficou apenas com uma pequena cicatriz perto da boca.
Os animais que passam pela equipe veterinária geralmente seguem para os recintos da área de visitação, como Cacau. A paca fez uma cirurgia oftalmológica para corrigir uma úlcera de córnea há menos de um mês e já se recupera bem.