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Rodando pelas estradas

Vida de caminhoneiro se completa juntando trapos

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Minha vida, desde os meus 13 anos, foi rodar pelo Nordeste. Tudo, na verdade, começou na minha pequena e encantada Belmonte, litoral da Bahia, onde nasci e me criei correndo atrás dos guaiamuns. Esse tempo de menino, no entanto, findou-se assim que papai faleceu, e minha mãe precisou dar conta dos filhos, total de cinco, sendo eu o mais velho.

Fui trabalhar de ajudante de caminhoneiro e, não tardou, fiz minha primeira viagem para Salvador. De lá para Recife foi um pulo, até completar todas as oito capitais no litoral nordestino. Faltava Teresina, que, por conta do trabalho, só fui conhecer há pouco mais de um ano. E, apesar de não ter ficado por lá além de alguns dias, possuo um enorme carinho e, melhor, profunda gratidão por aquela cidade. E, se você tiver um tempinho, sente-se, que vou lhe contar.

Após quase 20 anos na estrada, consegui comprar um caminhão. E, por conta disso, passei a fazer viagens bem além do litoral. E eis que, em junho do ano passado, fiz um frete para a capital do Piauí, onde dormi em um pequeno hotel. Uma noite apenas. Todavia, foi mais que suficiente para transformar a minha vida, que desde sempre havia sido um poço de solidão, em um oásis de fartura.

Assim que entrei no hotel, fui atendido por uma mulher de seus lá 45 anos, idade que regula com a minha. Trocamos algumas palavras, até que ela me entregou as chaves do quarto. Tomei um banho e, em seguida, meu estômago clamou por um bom prato de comida. Desci as escadas. No entanto, para meu azar, não havia nada aberto àquela hora, pois já era quase uma da madrugada. Troquei algumas palavras com a recepcionista.

— Tá com muita fome?

— Um pouco.

— Se quiser, preparo um sanduíche pra você.

Não sei se foi a estrada que me arrancou todo o orgulho, mas aceitei de pronto a oferta daquela mulher, que disse se chamar Joana. E, enquanto aguardava na recepção, ela foi até a cozinha do hotel e, em pouco mais de cinco minutos, retornou com um belo sanduíche de queijo e uma garrafa de suco de acerola.

Agradeci e dei uma boa mordida, quando pude sentir o quão bom estava aquela refeição, que, àquela hora, me pareceu um manjar dos deuses. Joana apenas observava, talvez curiosa por saciar a fome de um faminto naquela madrugada.

— Muito bom, Joana!

— Minha avó me dizia que o melhor tempero é a fome.

— Está muito bom mesmo!

Após comer, perguntei quanto era. Joana apenas sorriu e disse que não era nada, que era por conta da casa. Diante de tamanha generosidade, eu me senti obrigado a ficar por ali conversando com a minha quase amiga. E, confesso, a conversa foi muito melhor do que o sanduíche, que, por sinal, estava delicioso.

Fui dormir por volta das três horas. Acordei próximo ao meio-dia. Tratei de arrumar as coisas e voltar para a estrada. Passei na recepção para pagar pela hospedagem. Fui atendido por um rapaz. Agradeci e fui em direção ao meu caminhão, quando percebi que Joana vinha toda sorridente em minha direção.

— Já de partida, Zé Carlos?

— Preciso pegar meu rumo, Joana.

— Que pena. Volta quando?

— Não sei. Dependo dos fretes.

— Então, siga seus planos.

Joana me deu um forte abraço e um beijo na bochecha. Não sei se ela fez de propósito, mas conseguiu com que eu sentisse vontade de ficar mais um pouco em Teresina.

— E quais são os seus planos pra hoje, Joana?

— Hoje é dia de me apaixonar por você.

Diante de tal convite, não tive escolha nem desejo de pegar a estrada naquele dia. Fui para a casa de Joana, onde nos amamos por quase uma semana, até que, sem mais poder viver longe dela, decidimos juntar os trapos. E aqui estou, na nossa casinha na minha cidade natal, esperando a minha amada acordar. A mesa já está posta. Hoje teremos sanduíche de queijo e suco de acerola.

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