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Vida plena de sucesso vira mera ilusão do “Instagramável”

Foto/Divulgação

Vivemos em tempos de paradoxos existenciais. A busca por uma vida plena — aquela em que acertamos mais do que erramos, amamos sem reservas e convivemos com altivez frente às incertezas — esbarra numa ansiedade coletiva: a necessidade de provar que somos belos, bem-sucedidos e amados. As redes sociais, em especial, transformaram-se em vitrines de vidas idealizadas, onde o “instagramável” prevalece sobre o real. E, nesse cenário, o que deveria ser uma celebração da liberdade de existir e pensar, muitas vezes se torna uma prisão autoimposta.

Estamos, em grande parte, escravizados por filtros que embelezam, legendas que romantizam e métricas que mensuram nosso valor em curtidas e compartilhamentos. O problema não é compartilhar momentos felizes ou realizações — a vida merece ser celebrada. Mas o que vemos é um excesso de curadoria que transforma o ordinário em espetáculo e faz com que o simples prazer de existir perca espaço para a performance de uma vida que, em sua essência, não existe. Esse excesso de exposição não só gera uma falsa sensação de importância como também provoca nos outros uma inquietação silenciosa: “Por que minha vida não é assim?” É um ciclo vicioso, onde a excitação do outro se torna, paradoxalmente, uma fonte de depressão para quem observa.

Diante desse cenário, é essencial que cultivemos a resiliência. Não aquela resiliência passiva, que se conforma com os tropeços da vida, mas uma ativa, que transforma as adversidades em aprendizado. Altivez, aqui, é um valor indispensável. É a capacidade de encarar o sucesso sem soberba, o fracasso sem desesperança e as inseguranças com dignidade. Não há problema em errar, assim como não há mal algum em não ser perfeito. Na verdade, é justamente na imperfeição que reside nossa humanidade.

Uma vida plena só é possível quando respeitamos tanto a nossa liberdade quanto a dos outros. A liberdade de pensar, agir e existir precisa ser acompanhada do respeito pelo espaço e pela realidade alheia. Não há necessidade de gritar aos quatro ventos todas as nossas conquistas — algumas delas ganham mais significado quando apreciadas em silêncio. Assim como não devemos subestimar os erros e fragilidades que nos tornam quem somos. Nas relações afetivas, essa liberdade compartilhada é o que fortalece os laços. Amar alguém não é projetar perfeição, mas acolher o outro em sua totalidade, erros e acertos incluídos. Em um mundo de amores líquidos e superficiais, onde se busca mais validação do que conexão, resgatar a essência do afeto genuíno é um ato revolucionário.

A comunicação, seja ela verbal ou não, é o fio condutor das nossas interações. Mas, como tudo, precisa de equilíbrio. Há momentos para se manifestar, e há momentos para silenciar. Na ânsia de sermos ouvidos, corremos o risco de banalizar a importância do que temos a dizer. O excesso de exposição pode transformar a relevância de nossas palavras em ruído, enquanto a moderação e a autenticidade dão peso ao que realmente importa.

A vida moderna trouxe uma nova forma de alienação: a excitação que deprime. Parece contraditório, mas não é. A busca incessante por validação nas redes sociais gera picos de euforia — a foto perfeita, o momento perfeito, o reconhecimento virtual. Contudo, essa euforia é efêmera e, muitas vezes, seguida por um vazio avassalador. O que era para ser um estímulo à conexão e à felicidade, torna-se um gatilho para a frustração e a solidão.

A felicidade real não precisa de plateia. Ela está nas pequenas vitórias diárias, nos erros que nos ensinam e nos momentos compartilhados com aqueles que realmente importam, sem a necessidade de aprovação externa. A vida plena é aquela vivida com autenticidade, em que nos permitimos ser quem somos, sem máscaras ou filtros. O que dá sentido à existência não é a perfeição exibida, mas a verdade vivida.

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