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Silêncio na muvuca

Vieira, meu sorriso de Coringa, e o ‘Porco’ assado por um ‘Fogão’ campeão

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Carioca que sou, fui convidado por um amigo meio mineiro, meio paulista, o Vieira, para assistir a uma partida no majestoso estádio do Palmeiras. Como eu precisava antes dar um pulo em Brasília para encontrar meu grande companheiro e mentor, o José Seabra, editor-chefe da Sucursal Nordeste do Notibras, que estava de passagem pela capital da República, tive que pegar um voo direto para o aeroporto de Congonhas, onde o Vieira já me aguardava.

Apesar do trânsito infernal, meu camarada conseguiu, que nem Garrincha, driblar todos os veículos à nossa frente. Tanto é que, em pouco mais de meia hora, chegamos ao seu apartamento, onde deixei minha mochila. Ingressos na mão, fomos a pé até o Allianz Parque, que fica a poucos quarteirões da residência do Vieira.

O Palmeiras, então líder do Campeonato Brasileiro, receberia o Botafogo, que havia perdido a liderança na rodada anterior. Como meu colega havia comprado os ingressos, nem reclamei de ser obrigado a me sentar na torcida do Verdão. No entanto, meu coração estava junto à confiante torcida do Glorioso, que me pareceu muito mais barulhenta do que a maioria esmagadora de alviverdes.

Como qualquer torcedor ajuizado que está rodeado de apaixonados pelo time adversário, acompanhei a partida com indiferença. É verdade que, vez ou outra, me levantei para ver se o ataque do meu time me daria alegria. Entretanto, ao invés de reclamar do lance perdido, gritei que o atacante estava impedido, mesmo que praticamente toda zaga do Palmeiras desse condição.

Aos trancos e barrancos, fui sobrevivendo, até que o meu time abriu o placar. Pra quê? Quase grito gol, mas um resquício de sanidade me manteve mudo. Se bem que, depois eu soube pelo Vieira, que não consegui esconder meu sorriso de Coringa.

Quase final de partida, o Botafogo vencia por três a zero, quando, já nos acréscimos, o time da casa conseguiu marcar o gol de honra. Apito derradeiro, os botafoguenses pulavam que nem loucos, enquanto os palmeirenses xingavam o time e o técnico. E eu no meio daquela muvuca, até que o Vieira me puxou pelo braço.

— Edu, vamos?

Retornamos para o apartamento do meu amigo, que estava deploravelmente abatido. Ele sabia que o Botafogo havia praticamente garantido o título na reta final do campeonato. O time carioca ainda teria que enfrentar o Atlético Mineiro em Buenos Aires para sagrar-se campeão da Libertadores. E, como estamos em tempos de Botafogo, não deu para o Galo nem pro Porco. O Glorioso faturou os dois canecos.

Logo após o Botafogo ser campeão brasileiro, o Vieira, torcedor da paz, telefonou para me dar os parabéns. Não sou de tirar onda com os derrotados, mas não resisti e mandei essa:

— Pois é, meu amigo, e dizem que esse é o pior Botafogo dos próximos 10 anos.

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*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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