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Violência policial faz de pobre um saco de batatas

Assisti estarrecido na terça, 1, a um vídeo que espantaria não fosse, infelizmente, o habitual em se tratando dos atores responsáveis pela maldade, sadismo e perversão exibidos. Provavelmente muitos conhecem a expressão “você é um homem ou um saco de batatas?” Pois então, pegando de empréstimo parte desta expressão e parte do título do irreparável e inesquecível relato de Primo Levi, judeu italiano (que se vivo fosse repudiaria o genocídio israelense em Gaza e Líbano), sobre sua passagem pelo campo de extermínio nazista Auschwitz. E por quê?

Primo Levi, no magistral relato faz esta pergunta à humanidade, o que nos leva a pensar sobre o que é ser um homem (ou mulher) que submete um igual a tratamento tão desumano quanto o que foi feito com os prisioneiros nazistas, e também como é possível considerar um ser humano tão desprovido de humanidade que qualquer coisa pode ser feita contra ele, na acepção dos nazis.

E o que isto tem a ver com o vídeo referido? E a pasmaceira com que a sociedade encara isto, sem nenhum espanto? Tudo a ver. O vídeo mostra um ser humano, jovem, nas mãos de uma polícia que, parece, tem licença para prender, julgar, condenar e aplicar a pena a quem ela entender culpado. Um homem jovem, evadido de uma abordagem na periferia de São Paulo, provavelmente pobre porquê da periferia, que é alcançado pela mão forte do Estado, e jogado de uma ponte como se joga um saco de batatas (e tenho minhas dúvidas se se fossem batatas seriam assim jogadas fora).

Infelizmente o Brasil, e em especial o estado de São Paulo, tem uma das polícias mais letais do mundo. Só este ano foram mais de 500 mortes em abordagens policiais naquele estado, sendo a maioria das vezes inocentes desarmados. E isto ocorre por quê? Primeiro porque há uma cultura racista e preconceituosa no Brasil e que se perpetua na formação das forças policiais, de que morador de periferia pobre e preto é suspeito até prova em contrário. Segundo e tão importante quanto, o fato de que as autoridades do estado, especialmente o governador Tarcísio de Freitas e seu secretário de segurança Guilherme Derrite, ao nada fazerem para minimizar isto, incentivam a continuidade desde comportamento delituoso que reproduz o “modus operandi” herdado da escravidão. Não à toa há algum tempo um oficial da PM de São Paulo disse que os moradores da periferia e dos jardins teriam de ser tratados de forma diferente quando abordados pela polícia, pois eram cidadãos diferentes.

Por sorte o cidadão diferente, na acepção da formação da PM paulista, não morreu. Mas este comportamento não se alterará sem uma intervenção do Estado a fazer valer o princípio básico da Constituição de que todos são iguais perante a lei. Considerando que Tarcísio foi e continua a ser apoiador de Bolsonaro e do bolsonarismo, que se vangloria da ditadura da tortura e dos assassinatos cometidos contra adversários, não se pode esperar que seja a partir do governo dele que alguma mudança venha. Caberá aos movimentos sociais organizados, capazes de refletir sobre estes fenômenos de violência gratuita e sem sentido, fazer o trabalho de luta para a minimização e fim desta prática nazista de extermínio dos indesejados pela elite, por parte da polícia paulista e de qualquer outra força policial do Brasil.

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Antonio Eustáquio Ribeiro foi diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília. É mestre em Políticas Públicas.

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