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Gratidão roubada

Violência sutil ajuda com uma mão para depois roubar com a outra

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Monique, mal entrou na quitanda, voltou o rosto para trás. Nada! Nem sinal do rapaz. Aliviada, foi em direção à prateleira de laranja e selecionou meia dúzia. Tamanho nervosismo parece que não foi notado pelos outros fregueses, muito menos pelo dono do estabelecimento e o empregado, que estava atendendo uma senhora.

— São só as laranjas?

— Ah, sim!

— Quatro e setenta.

— Débito.

A mulher, antes de sair da loja, olhou para os dois lados, olhou adiante. O jovem havia mesmo desaparecido. Se contasse, ninguém acreditaria. Mesmo assim, foi o que fez assim que chegou ao pequeno apartamento que dividia com Clarice na Asa Norte.

— Você não vai acreditar.

— No quê?

— Lembra que te falei de um cara que me ajudou na semana passada?

— Hum… Não.

— Clarice, você é mesmo uma cabeça-de-vento.

— São os meus alunos que me tiram do sério.

As duas riram.

— Quer café?

— Quero te contar o que aconteceu.

— Tá. Tô ouvindo. Mas quer café?

— Quero. Colocou açúcar?

— Não, né!

— Ah, bom!

— Tá, mas e a história?

— Clarice, eu te falei, sim, do cara que me ajudou a trocar o pneu.

— Ah, tá!

— Pois é, menina! Esse mesmo!

— E o que tem ele?

— Você acredita que ele me assaltou hoje?

— Sério?

— Sério!

— Que coisa!

— Pois é, Clarice! Assim que eu o encontrei, quis agradecê-lo, mas ele foi mais ligeiro. Levou minha carteira e parte da minha gratidão.

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Eduardo Martínez é autor do livro 157 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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