Monique, mal entrou na quitanda, voltou o rosto para trás. Nada! Nem sinal do rapaz. Aliviada, foi em direção à prateleira de laranja e selecionou meia dúzia. Tamanho nervosismo parece que não foi notado pelos outros fregueses, muito menos pelo dono do estabelecimento e o empregado, que estava atendendo uma senhora.
— São só as laranjas?
— Ah, sim!
— Quatro e setenta.
— Débito.
A mulher, antes de sair da loja, olhou para os dois lados, olhou adiante. O jovem havia mesmo desaparecido. Se contasse, ninguém acreditaria. Mesmo assim, foi o que fez assim que chegou ao pequeno apartamento que dividia com Clarice na Asa Norte.
— Você não vai acreditar.
— No quê?
— Lembra que te falei de um cara que me ajudou na semana passada?
— Hum… Não.
— Clarice, você é mesmo uma cabeça-de-vento.
— São os meus alunos que me tiram do sério.
As duas riram.
— Quer café?
— Quero te contar o que aconteceu.
— Tá. Tô ouvindo. Mas quer café?
— Quero. Colocou açúcar?
— Não, né!
— Ah, bom!
— Tá, mas e a história?
— Clarice, eu te falei, sim, do cara que me ajudou a trocar o pneu.
— Ah, tá!
— Pois é, menina! Esse mesmo!
— E o que tem ele?
— Você acredita que ele me assaltou hoje?
— Sério?
— Sério!
— Que coisa!
— Pois é, Clarice! Assim que eu o encontrei, quis agradecê-lo, mas ele foi mais ligeiro. Levou minha carteira e parte da minha gratidão.
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Eduardo Martínez é autor do livro 157 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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