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Virginia Raggi, 37 anos, a musa das urnas, é primeira mulher prefeita de Roma

Roma elegeu neste domingo (19) a primeira prefeita mulher de sua história. Virginia Raggi, de apenas 37 anos, recebeu 67% dos votos e derrotou Roberto Giachetti, candidato do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), liderado pelo primeiro-ministro Matteo Renzi.

De quebra, Raggi deu à legenda populista e antipartidária Movimento 5 Estrelas (M5S) uma vitória inédita, já que até aqui a maior cidade governada pela sigla do humorista Beppe Grillo era Parma, de 190 mil habitantes. Além disso, a conquista de Roma acontece no mesmo ano em que o M5S perdeu seu fundador e ideólogo, Gianroberto Casaleggio, vítima de um derrame.

A festa dos militantes do Movimento 5 Estrelas começou logo que as seções eleitorais foram fechadas, às 23h (18h em Brasília), e as pesquisas de boca de urna apontaram uma vitória folgada de Raggi. Muitos falavam que o resultado representava uma “libertação” para o partido, que nasceu em 2009 e logo chacoalhou a política italiana, até então polarizada entre a centro-esquerda herdeira do Partido Comunista e a centro-direita liderada por Silvio Berlusconi.

Nas eleições parlamentares de 2013, a legenda de Grillo, um dos humoristas mais famosos do país, se tornou a segunda maior força da Câmara dos Deputados e a terceira do Senado. O M5S faz uma oposição bastante dura ao governo Renzi, mas a dificuldade em se aliar a outras legendas devido ao seu caráter antipolíticos e eurocético fez com que ela se mantivesse longe do poder.

“Era um desafio difícil, agradeço a todos. Essa derrota me pertence, mas agora devemos recomeçar da oposição. Continuaremos a trabalhar por Roma, seremos um ponto de referência para seguir adiante”, declarou Giachetti.

Advogada de formação, Raggi havia sido oficializada candidata em uma votação online realizada no blog de Beppe Grillo – esse é o método usado pelo movimento para tomar decisões importantes.

Inclusive, uma das principais acusações à agora prefeita eleita é que ela seria um mero fantoche se assumisse a Prefeitura de Roma.

Raggi cresceu nos bairros de San Giovanni e Ottavia e é graduada em direito e jurisprudência pela Universidade de Roma Tre. Se especializou em direito autoral e propriedade intelectual e trabalhou por seis anos em um escritório de advocacia que fazia a defesa do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. No entanto, ela sempre rechaçou ter qualquer afinidade com o líder conservador.

Eleita vereadora em 2013, dedicou-se aos temas de educação e meio-ambiente e, durante a campanha, prometeu instalar teleféricos na cidade e aumentar a taxação sobre ciganos. Além disso, garantiu que colocará as finanças da capital em ordem e afirmou ser contra a candidatura romana para receber as Olimpíadas de 2024. Depois voltou atrás e declarou que apenas gostaria que a população fosse consultada sobre o assunto.

Outro tema polêmico que ela pode submeter ao povo é a construção do novo estádio da Roma, que terá capacidade para 60 mil pessoas e será erguido no bairro de Tor di Valle.

Referendo – Embora tenha tentado se descolar das eleições municipais, Matteo Renzi verá aumentar a pressão sobre ele, um primeiro-ministro que não chegou ao poder por meio do voto. Das seis capitais regionais que foram às urnas, o PD estava na disputa em cinco, mas ganhou apenas em Bolonha, com o prefeito Virginio Merola, e Milão, com o ex-CEO da Expo 2015 Giuseppe Sala.

Além de Roma, o partido também perdeu em Trieste, para o conservador Roberto Dipiazza, e Turim, para Chiara Appendino, do M5S. Esta última representa uma derrota histórica para a sigla, já que o vencido foi Piero Fassino, que governava a capital do Piemonte desde 2011 e é um dos principais dirigentes do PD.

Na sexta capital regional que foi às urnas neste domingo, Luigi De Magistris (Lista Cívica) foi reeleito com folga, vencendo o candidato apoiado por Berlusconi, Gianni Lettieri. As eleições municipais eram uma oportunidade para Renzi fortalecer o projeto nacional do Partido Democrático e ganhar fôlego para o decisivo referendo constitucional que será realizado em outubro.

A consulta popular dirá se os cidadãos aceitam ou não o projeto do governo que reduz os poderes do Senado e acaba com o bicameralismo paritário na Itália. Se o “não” vencer, o primeiro-ministro já prometeu deixar a política. Nos próximos meses, seus adversários baterão insistentemente na tecla das derrotas em Roma e Turim, e Renzi terá de se desdobrar para convencer a população sobre a importância da reforma constitucional, isso em um momento em que o país ainda patina para retomar o crescimento econômico e luta contra altas taxas de desemprego.

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