Nessas últimas duas semanas ficou evidente a importância da imunização do povo contra o vírus comunista da Covid-19. Associada à decisão do Supremo Tribunal Federal, que praticamente obrigou o governo a comprar a vacina, a obediência de governadores e prefeitos às leis certamente salvou o país de uma catástrofe jamais vista. Não tivessem “peitado” o negacionismo oficial, provavelmente já teríamos ultrapassado a casa do milhão de mortos. As variantes da doença não são políticas e, felizmente, desconhecem ideologias. Tanto que esta semana o “ideólogo” Olavo de Carvalho foi convocado aos céus para dar aos pupilos defuntados pelo menos uma razão lógica para, em vida, eles terem acreditado que a vacina negada pelo capitão é uma obra do capetão. Explicação impossível de ser dada, mas tudo é possível no reino bozolítico.
A verdade, porém, é que, como pensou William Shakespeare, há mais coisa entre o céu a terra do que pode imaginar a vã filosofia bolsonarista. Ou seja, o buraco é bem mais escuro do que o despreparo que eles fingem desconhecer. Para o governo brasileiro, o vírus que inicialmente não existia deixou de matar. Pela ducentésima nonagésima vez seguida, o mito falhou. E mostrou que erra mais a cada novo dia. Os dados das secretarias estaduais e municipais de Saúde são a prova de que ele nada sabe – nunca soube – sobre a letalidade da doença. Mais um vez o povo da ciência e a turma do pé no chão teve de entrar no circuito da normalidade, de modo a novamente evitar o caos esperado há anos pelos que fazem plantão no cercadinho.
Voltando às duas últimas semanas, o período foi marcado pela dificuldade de encontrar um familiar, amigo, conhecido ou vizinho que não tivesse testado positivo para Covid. Mesmo com números alarmantes, o presidente da República e seus fiéis seguidores não deixam de negar o vírus, creditando sua existência à “mente doentia” dos comunistas. Perdão pelo sincericídio, mas se há uma mente doente certamente não é a dos comunistas. Aliás, onde estão esses comunistas que tanto apavoram os bolsonaristas patriotas, democratas, certinhos e incorruptíveis? Melhor perguntando, do que tem medo esse povo que se acha melhor do que os outros?
Quanto aos comunistas, talvez os fantasmas de Miguel Arraes, Leonel Brizola, Elis Regina, Henfil e Millor Fernandes permaneçam no subconsciente inconsciente do povo que rende loas aos golpistas. Comunismo hoje só existe na cabeça de quem não tem o que pensar ou fazer. É tarefa de todos tentar trazer o Brasil de volta pra dentro do Brasil. Muito pior do que a letalidade do vírus da Covid-19 é a capacidade mortífera do bolsonarismo para o povo brasileiro. Não bastam os estragos decorrentes da inexistente política externa? Não foi suficiente o nó dado por eles à economia nacional? De quantas mortes ainda precisaremos para entendermos que faz dois anos que estamos em uma guerra contra uma doença tão mortal e silenciosa como é o governo do mito?
Por falta de tinta na caneta, nem sempre consigo contar toda uma história em um único texto. Semana passada, iniciei, mas não conclui, o caso do causídico bolsonarista que pediu a prisão de Willian Bonner após uma postagem de uma foto do jornalista fazendo um teste de PCR para Covid. Adevogado (grafia correta para quem age desse modo) em Brasília, em 2006 o sujeito havia tentado uma vaga na Câmara Distrital pelo Psol, o mesmo partido de Jean Wyllys, o menino dos pesadelos da família do presidente da República. Para sorte do parlamento e do povo local, ele teve o pedido de candidatura indeferido. Adepto do ditado não importa que a mula manque, eu quero é rosetar, o suposto paladino da moralidade circula conforme os interesses do momento.
Sem referência direta ao sujeito em questão, lembro uma nova tese do biólogo e pesquisador Atila Iamarino. Notório por seu trabalho de divulgação científica denominado Nerdologia, Atila torce para a volta de duas antigas e esquecidas tendências: palito de sorvete que dá outro de brinde e ter vergonha de ser ignorante. Acrescentaria uma terceira: parem de apontar o dedo para os outros e comecem a governar. Aproveitem o restinho de tempo que ainda falta para o fim da linha.