A cultura ocidental, da acumulação, prega a ideia do crescimento, das coisas grandes, mas no Brasil essa visão ganhou dimensão ainda mais forte na relação do ser humano com a natureza. Nas aglomerações urbanas, nos negócios, nas moradias, em tudo está cravado um estigma: é proibido ser pequeno.
É certo que a população brasileira aumenta freneticamente, por mais que haja um controle espontâneo da natalidade em parcela da sociedade. Estamos crescendo a taxas que resultam em quase três milhões de novos viventes por ano.
Ou seja, todo ano adicionamos o equivalente a uma cidade de Salvador, a capital dos baianos, aos nossos índices. E a taxa de mortalidade segue o sentido inverso, como resultado dos avanços científico-tecnológicos e da melhoria da qualidade de vida tupiniquim.
No entanto, esse fato não justifica o preconceito contra a dimensão adequada dos elementos que compõem a vida nos espaços da Terra. A tecnologia deveria influir no rumo contrário, mas nem sempre é assim, pois um de seus focos é a redução da presença humana na produção de bens, por meio da automação, nas cidades e no campo.
Na área rural, as máquinas substituem o braço humano nas lavouras, mas essas ficam cada vez maiores, tirando a terra do pequeno, que vai pras cidades virar sem-terra, sem-teto, sem-nada. Há menos de cem anos, uma vaca dava um litro de leite por dia, mas agora dá 30 e mesmo assim a maioria dos ruralistas mantêm a média de uma rês por hectare de chão, como era um século atrás.
Nas cidades, o empresário é forçado a expandir o seu negócio sem limites. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por exemplo, já nos seus estatutos determina que seu suporte visa fazer com que o micro deixe de ser micro.
O cara do carrinho de cachorro-quente tem que sonhar com um caminhão truck lunch, senão não terá futuro. Não interessa se o carrinho já lhe dá um sustento digno.
Nas próprias moradias, as classes mais abastadas fazem casas, mansões ou mesmo apartamentos enormes, exagerados, com cômodos desnecessários. É comum vermos pessoas que raramente visitam partes de suas habitações – e nem se tocam que ao seu redor há milhares de famílias que viveriam felizes naqueles espaços vazios.
As áreas urbanas, por sua vez, são acometidas de complexo de inferioridade se não tiverem novas ruas, novos bairros a cada ano, ainda que não tenham redes de água e esgoto, nem onde depositar lixo. Salvam-se algumas tombadas como patrimônio histórico, como se apenas as coisas muito velhas representassem nossa história.
Com essa volúpia, lá se vão as áreas verdes, os cursos d’água, lagoas, a fauna e a flora, enfim. Nem campos de pelada existem mais, tal a ganância da especulação imobiliária.
O mais grave, no fim das contas, é que a dimensão da existência humana é colocada nas aparências, não em seu conteúdo ou consistência. É, pois, uma visão auto corrosiva, sem grande porvir.
Jaime Sautchuk