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Santana e a sequestrada

Visão de ‘lobisomem’ leva mulher a delegacia

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução

A delegacia estava tão tranquila naquela madrugada, que poderia até parecer um aconchegante dormitório, caso não fossem por aquelas cadeiras capengas. Santana tentava manter as pestanas abertas, enquanto os outros policiais dormiam. Ele estava no seu toco, que terminaria daqui a menos de vinte minutos, quando o próximo da fila o substituiria e, finalmente, poderia tirar uma soneca de verdade no alojamento da delegacia.

Aliás, para quem não sabe o que é toco, é quando apenas um dos policiais fica acordado, enquanto o restante da equipe tira uma soneca durante a madrugada. Obviamente que há um rodízio para que todos possam tirar seu quinhão de sonhos repletos de pôneis coloridos pastando em campos verdejantes. Alguns, todavia, talvez tenham pesadelos.

E lá estava o Santana, quando, de repente, aquele silêncio passou para o caos assim que uma mulher entrou gritando pela porta da delegacia. Desesperada, ela não conseguia dizer coisa com coisa, mesmo que o Santana utilizasse sua costumeira truculência. Nada parecia acalmar a tal mulher, que estava totalmente transtornada. O que teria acontecido para que ela se transformasse numa doida varrida? Teria sido assaltada? Seria mais uma vítima de violência doméstica?

Aquela situação começou a incomodar o velho policial. Não por empatia, sentimento que ele raramente demonstrava. Mesmo assim, somente quando havia um interessa maior por detrás como, por exemplo, uma gratificação em dinheiro ou até um simples lanche na padaria da esquina. No caso em questão, Santana não estava interessado em recompensa, mas um frio na espinha indicava que algo terrível teria acontecido com aquela mulher e, pasmem, ele poderia se tornar a próxima vítima.

– Um homem…

– Que homem?

– Um homem enorme… Peludo…

– O que foi que ele fez?

– Ele me sequestrou,

– Onde foi isso?

– Eu fugi.

– Senhora, onde foi isso?

– Num barraco.

– Você sabe onde fica esse barraco?

– Sei, sim.

– Onde fica?

– Não sei o endereço, mas sei ir.

Nisso, Santana, com suas banhas, sai correndo pelos corredores da delegacia, bate nas portas para acordar todos os policiais. Em menos de cinco minutos, estão prontos para prender o tal sequestrador. Com armamento pesado, a equipe se dirige para a viatura, quando, então, percebem que se trata de mais um caso de insanidade.

– Mas vocês vão apenas com essas armas?

– Só? Senhora, isso aqui é uma 12.

– Ah, mas com essas balas que vocês têm não vão conseguir matar o peludão, não. Tem que usar bala de prata.

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