Entre as grandes nações mundiais, somos hoje a mais isolada do planeta. Talvez a única sem vez e voz nos principais salões da América do Norte, Europa e da parte rica da Ásia. Portanto, acho que o tiro deverá sair pela culatra caso a ideia do mito do Planalto ao pisar em solo russo seja mostrar algum prestígio internacional. Pior será a tentativa de recuperar votos perdidos entre as viúvas do radicalismo. Seja lá o que for, Jair Bolsonaro esqueceu que não preside o Arranca Toco Futebol Clube e que, nessa altura de uma disputa presidencial, tinha o dever de jogar qualquer tipo de subserviência ou de oportunismo em um dos papa lixo espalhados pelo Distrito Federal. Pensou pequeno mais uma vez e, por isso, perdeu a grandeza de um líder que poderia estar pensando em uma remota reeleição para se redimir das numerosas falhas cometidas desde a posse.
Presidente do país mais extenso da terra, Vladimir Putin deve estar preocupado com coisas bem mais importantes do que receber o capitão presidente. Embora a Chancelaria brasileira divulgue à exaustão que o convite para a visita a Moscou partiu do todo poderoso czar, obviamente que até as paredes do Kremlin sabem que Putin está envolvido até a medula em buscar fórmulas para invadir a Ucrânia sem se indispor economicamente com meio mundo europeu e, na pior das hipóteses, achar explicações lógicas para eventual recuo diplomático sem perder da Eurásia (parte da Rússia está situada no leste europeu e parte ao Norte da Ásia) ao encanto conquistado à custa do inegável e sempre exibido poderio bélico.
À vista disso, a impressão que fica é que Vladimir Putin, quem diria, é a última chance de o mito brasileiro decolar nas pesquisas eleitorais, nas quais faz algum tempo estacionou na segunda colocação. E não é um segundo posto qualquer. A diferença varia de 12 a 20 pontos percentuais. Ou seja é como um clássico do futebol, cujo primeiro tempo termina 5 a 0 para um dos lados. Virar só por um milagre. Curiosamente líder do berço do comunismo mundial, o milagreiro da vez deve estar putin da vida por ter sido guindado à condição de salvador de uma eleição perdida para palavras mal colocadas, gestos despudorados, ameaças incontrolavelmente indigestas, promessas descumpridas e ausência absoluta de ações de governo.
Assim com o czar de uma das maiores potências nucleares do planeta terá de pagar caro pela iminente invasão da Ucrânia, o capitão da Terra Brasilis perderá mais do que ganhará com essa viagem fora de hora a Moscou. Com Vladimir Putin assoberbado com a tentativa de convencer Joe Biden e os principais líderes europeus das necessidade da invasão, dificilmente Jair Messias conseguirá algum tipo de apoio para, quem sabe, anexar a Ceilândia e o Entorno de Brasília ao cercadinho do Palácio da Alvorada. Difícil, mas ele resolveu tentar. O custo financeiro e politico saberemos com o tempo. Torçamos para que ele, que jura não ter tomado vacina, mereça um distanciamento menor do que experimentou o francês Emmanuel Macron em recente audiência com o mesmo Putin.
Reitero que, muito mais do que passeio sem rumo, sem propostas e com resultados antecipadamente pífios, Bolsonaro tinha de fazer o que nunca fez desde que assumiu a Presidência da República: pensar grande. Talvez ouvir um daqueles assessores com coragem para se posicionar contra iniciativas fora de época e de propósito. Alguém que pudesse dizer, sem medo de perder o emprego: Se vas de vacaciones, mas, faltando alguns meses para as eleições, organize antes a casa para que sua campanha não seja ofuscada pelas brigas de ego que acontecem no seu quintal. Tentar recuperar parte da credibilidade é ainda mais importante do que estancar a confusão entre aliados de primeira e segunda horas. Nessa quadra eleitoral, não é de bom alvitre fomentar o gabinete sem nenhum sentimento público a espalhar boatos a partir de levantamentos mentirosos.
Um deles, creditado ao Instituto Paraná Pesquisas, informa que Bolsonaro lidera a corrida eleitoral em todos os estados. Terrivelmente falsos, os dados verdadeiros revelam que Luiz Inácio, o candidato dos comunistas, tem 40,1% das intenções de voto, contra 29,1% do oponente. Não é nada, não é nada, mas são quase 11% de vantagem. Embora a maioria dos simpatizantes da campanha bozolítica contestem e tentem desacreditar as consultas, os números atribuídos a Lula estão cada vez mais inflados. Então, se o pretexto da viagem sem nexo era se cacifar, melhor pegar o primeiro avião e voltar rapidinho para o seio de seus amados eleitores. Faça isso antes que a rejeição vire desprezo e alcance a resistência inconsciente dos empedernidos fanáticos. Se a outra ideia era salvar o mundo de uma guerra mundial, Joe Biden, Boris Johnson e Macron têm mais tentáculos. Será que o sonho era tentar o Nobel da Paz? O do ódio cairia como uma luva.