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Dona Irene em Madureira

Visita podia dar bode, mas ficou em outras compras

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução/Gira Mundo

A minha amada, a famosa e linda Dona Irene, de tanto me ouvir falar de Madureira, queria porque queria ir logo nesse lugar mágico encrustado no coração do encantador subúrbio carioca. Acordamos bem cedo, tomamos café e até tentei convencê-la a ir à praia. Que nada! Ela estava tão decidida, que não seria justamente eu que iria contrariá-la.

Caminhamos até a estação Cardeal Arcoverde, onde pegamos o metrô para a Central do Brasil. Ali, tomamos o trem para o bairro tão cantado em sambas. Finalmente descemos em Madureira, naquela muvuca tão própria desse lugar encantador. O sorriso da minha mulher tomou-lhe toda a face, que ficou ainda mais bonita.

Enquanto descíamos a rampa para a calçada, a Dona Irene torcia o pescoço pra cá, pra lá, pra todos lugares, pois queria captar toda aquela aura local. Confesso que até eu, que já perambulei inúmeras vezes por aquelas ruas, também estava muito empolgado. Ir à Madureira é como ir a uma roda de samba, ou seja, por mais que você tenha ouvido aquelas músicas, não tem como deixar de arriscar uns passinhos ou, ao menos, dar umas batucadas com as pontas dos dedos.

Depois de batermos perna pela região, a minha esposa disse que queria conhecer o famoso Mercadão de Madureira. É que eu havia lhe dito que lá havia até bode para vender, coisa que ela queria ver de perto. Pra quê? Assim que entramos nesse misto de shopping e feira, parece que a Dona Irene foi picada pela mosca do consumismo. Comprou tanta coisa, que encheu várias sacolas. Obviamente, eu que as levei, pois a minha mulher não queria estragar as unhas, lindamente pintadas de vermelho, sua cor preferida.

No entanto, ainda faltava o tal bode. Subimos para o segundo andar do Mercadão, onde, finalmente, a minha esposa se deparou com um pequeno rebanho de caprinos em um cercadinho. Ela ficou apaixonada justamente por um cabritinho malhado. Os olhos castanho-escuros dele fitaram os lindos olhos da Dona Irene, que, por sua vez, se voltaram para os meus. Um medo me correu por toda a espinha, pois conheço muito bem a minha amada.

Ela queria porque queria levar aquele lindo filhote para casa! Isso deve ter durado alguns milésimos de segundo, mas me pareceram horas, até que, graças aos sábios deuses do samba, a minha alma gêmea teve um relampejo de serenidade e, olhando bem dentro daqueles olhos do bodinho, disse: “Eu não posso te levar pra casa, mas não fique triste. Alguém vai te comprar e você vai viver em um lindo quintal cheio de capim bem verdinho”.

No caminho de volta, sentados no banco do trem, olhei para a Dona Irene, que segurou firme a minha mão. Ela nada me disse, mas senti que a sua profecia logo iria se realizar. Por isso, enquanto escrevo esta crônica, estou certo de que o nosso amigo, hoje certamente um lindo bode, vive uma vida repleta de grama tenra e verdinha.

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