A eleição nos Estados Unidos mal começou, mas o candidato Donald Trump, por meio de seus correligionários, ameaça questionar o resultado. Roteiro antigo para um filme que sequer foi lançado, o enredo fajuto é o mesmo de 2020. Mais do que batido, o argumento é uma suposta nova fraude no sistema de votos. Discurso de perdedor ou de mau perdedor? As duas coisas, principalmente porque o mundo inteiro se recorda de que, na eleição passada, ele entrou com mais de 60 processos judiciais denunciando falhas em diferentes partes do país. Perdeu todas.
No entanto, exatamente como aqui, boa parcela dos eleitores de lá mantém a tese de que Joe Biden é um presidente ilegítimo. Na minha terra, esse tipo de questionamento sem provas e antes de o jogo ser jogado tem um sinônimo vulgar, mas muito apropriado: quem tem c*&* tem medo. A se confirmar a ameaça de Trump, os norte-americanos, natos ou não, correrão o sério risco de venezualização dos EUA, isto é, um candidato derrotado nas urnas que fará de tudo para levar no tapetão. Nicolás Maduro perdeu no voto, ganhou na marra, mas, fora da Venezuela, poucos o reconhecem como presidente. Dentro também.
Para quem se diz o rei da cocada preta, o pegador, o perdigueiro e o gostosão do planeta, o comportamento fora das quatro linhas é um claro sinal de que ele está com o caneco fechado até o tampo com rolhas importadas de Portugal, o maior produtor mundial de cortiça. Craque nas críticas e mentiroso nas acusações diárias aos imigrantes, Trump sabe que a disputa será voto a voto. Por isso, na véspera da eleição, ele parece ter consolidado a estratégia de instigar seus fanáticos e maluquetes seguidores para recorrer à violência no caso de derrota, a segunda consecutiva.
Perseguidos dia e noite pelo candidato republicano, os negros, os latinos e os imigrantes com direito a voto, também conhecidos por minorias, podem se transformar no fiel da balança. Sempre eles. Foi assim no Brasil de 2022. É esperar e torcer. Aliás, como peru de fora, torço sempre pelo menos raivoso. Livre como um táxi, tenho o direito de me manifestar esperançosamente mesmo onde não sou chamado, estou batendo tambor para a democrata Kamala Harris desde o dia em que ela convenceu Biden a jogar a toalha. Vencedora, Kamala será a primeira mulher a assumir a Presidência dos Estados Unidos e, hoje, a pessoa mais indicada para convencer o povo estadunidense a virar a página em relação a Donald Trump, o mala sem alça.
Lembrando Abraham Lincoln, um dos mais célebres presidentes dos EUA, “um boletim de voto tem mais força que um tiro de espingarda”. Portanto, Donald Trump, deixe as pessoas decidirem o futuro do país. “Isto é uma democracia”. No último fim de semana me convenci de que, mesmo sem voto, faria qualquer coisa pela vitória de Kamala. Além de salvar o mundo de quem se mostra obcecado pela vingança, votar maciçamente na atual vice-presidente dos Estados Unidos significa livrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da forca. Ao se mostrar torcedor ferrenho de Kamala, Lula arrumou encrenca eterna com o vingativo Trump e, de quebra, ganhou Elon Musk como o X da questão.