A volta de Donald Trump à Casa Branca, com sua eleição confirmada nas primeiras horas desta quarta, 6, vai impactar significativamente a política externa do Brasil. Trump, que mantém uma relação amistosa com o ex-presidente Jair Bolsonaro, tem uma postura internacional bastante distinta da atual administração de Joe Biden, o que forçará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ajustar sua posição no cenário internacional.
Nos meios diplomáticos é dado como certo que Lula busque fortalecer laços com líderes que mantêm relações tensas com os EUA, como Vladimir Putin, da Rússia, e Xi Jinping, da China. Será uma tentativa de compensar um eventual isolamento político do Brasil em relação aos Estados Unidos. Além disso, uma reconciliação com Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, pode ser uma estratégia para consolidar uma aliança na América Latina e evitar o aumento das tensões regionais.
A política externa de Trump é descrita por uma visão isoladora e uma redução da intervenção em assuntos internacionais. Isso pode significar que o Brasil precisaria de mais espaço para implementar uma política regional independente, sem tanta pressão de Washington, algo que Lula já vem tentando fazer com sua ênfase no multilateralismo e na diplomacia Sul-Sul.
No entanto, a necessidade de aproximação com regimes menos alinhados aos valores democráticos do Ocidente pode ser uma fonte de crítica, especialmente entre setores mais conservadores e liberais no Brasil. É nessa hora que o bolsonarismo, que muita gente entendia como águas passadas, volta com a força de um tsunami.
Trump, que tem carinho por líderes populistas de direita como Jair Bolsonaro, tende a adotar uma postura mais isolacionista e alinhada aos valores conservadores, o que pode complicar as relações do Brasil com os Estados Unidos caso Lula busque manter sua política externa de alinhamento com países como Rússia, China e Venezuela.
Com um Trump reeleito e buscando enfraquecer organismos multilaterais, Lula poderá ser pressionado a fortalecer laços com outras potências globais como a China de Xi Jinping e a Rússia de Vladimir Putin. Além disso, uma reaproximação com a Venezuela de Nicolás Maduro poderá se tornar uma estratégia central para fortalecer as alianças na América Latina.
Lula chegou a tropeças nos próprios passos nos últimos dias, ao tentar impor suas vontades no Brics, formado por economias emergentes. Agora ele precisa olhar para o retrovisor e fortalecer o papel do Brasil no organismo criado junto com Rússia, Índia, China e África do Sul, e que já conta com mais de 30 países.
A vitória de Trump pode acelerar esse movimento, exigindo que o Brasil adote uma postura mais independente em sua política externa (quando e trata dos Estados Unidos) e busque equilibrar suas alianças para garantir a estabilidade regional e comercial, mesmo em um cenário cada vez mais conturbado.
Assim, a diplomacia brasileira se verá obrigada a enfrentar o desafio de expandir parcerias estratégicas em um ambiente geopolítico de incertezas, reforçando relações com aliados que coordenam uma agenda de multipolaridade e respeito à soberania do cada vez mais complicado Sul Global.