Desde os primórdios da República, passando pelo abominável período ditatorial, é comum ministros, presidentes de estatais, dirigentes de empresas públicas, fundações ou funcionários do primeiro escalão terem peso político igual ou pouco menor que o chefe do Executivo federal. O tempo passa, mas vez por outra um e outro são memorizados pelo que fizeram de certo ou errado. Seja alguma raiva, pouco carinho ou muitos xingamentos, o povo com um pouco mais de idade tem algum sentimento por esses ex-colaboradores de presidentes. Por exemplo, é difícil um cidadão maduro não lembrar dos generais Golbery do Couto e Silva, Leônidas Pires Gonçalves, Walter Pires ou dos coronéis Mário Andreazza e César Cals.
Também marcaram época em governos diferentes os engenheiros Alysson Paulinelli, Shigeaki Ueki e Aureliano Chaves, dos advogados Hélio Beltrão, Oscar Dias Corrêa e José Eduardo Cardozo, do médico Alcenir Guerra, do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e dos economistas Affonso Celso Pastore, Mailson da Nóbrega, Joaquim Levy, Zélia Cardoso de Mello, José Serra e Henrique Meirelles. São nomes aleatórios e escolhidos por conta de variados períodos de minha vida acadêmica ou profissional. Portanto, jamais tive compromisso político, funcional ou afetivo com nenhum deles. Em algum momento, todos tiveram importância na República e, por isso, estão ou um dia estarão nos livros de História do Brasil.
Foi um tempo em que a maioria do brasileiro sabia quem era o representante do mandatário em cada um dos 12, 25 ou 39 ministérios. As cobranças, críticas e elogios eram mais fáceis de chegar ao endereço. E hoje? Será que algum vestibulando ou formando de qualquer área saberia informar o nome de pelo três dos 23 ministros do governo Bolsonaro? Me vejo como antenado e sempre preocupado com o dia a dia da política. Entretanto, enquanto escrevia, consegui lembrar apenas de cinco ou seis dos quais já ouvi falar, mas que ainda não sei o que fizeram ou fazem de produtivo para o país: os generais Augusto Heleno e Braga Netto, o investidor Paulo Guedes, a não sei o que Damares Alves, o enganador Onyx Lorenzoni e a marinheira de primeira viagem Flávia Arruda.
Sejamos justos com nosso passado e tentemos responder com a rapidez que o mundo exige a simplória indagação: Qual dos ministros do período bozolítico será lembrado um mês após o término do governo? Acredito que um ou dois. Talvez o da Saúde, Marcelo Queiroga, e o da Educação, Milton Ribeiro, cuja principal atividade é pastorear o rebanho da Igreja Presbiteriana de Santos e colecionar frases do tipo “há crianças com deficiência que são de impossível convivência” e “universidades deveriam ser para poucos”. Provavelmente o doutor Queiroga não será esquecido enquanto não conseguir explicar a acusação de cometimento dos crimes de pandemia culposa com resultado de mortes e prevaricação. Quanto ao teólogo e pastor Milton, Deus se encarregará das explicações. A referência aos demais será a mesma da viúva Porcina, aquela que foi sem nunca ter sido.
Só para lembrar, Porcina é uma personagem criada pelo dramaturgo Dias Gomes e interpretada pela atriz Regina Duarte, ex-ministra do capitão. A verdade é que poucos ou nenhum dos atuais e ex-ministros de Jair Messias têm ou tiveram discurso próprio. Parecem bonecos que servem ao presidente da República na prática do ventriloquismo. A maioria lembra um grupo deslumbrado pensando e gastando como ministros, mas atuando como estagiários. É como se estivessem no deserto sem mapa e sem bússola. Não sou adepto da leitura ou do replique de memes críticos, mas mudei de ideia ao receber pelo zap zap uma bem humorada, porém séria, análise do cidadão Antônio Tabet, de quem jamais ouvir falar. Alguém buscou no Twitter e me enviou o referido texto, com o qual concordo do artigo definido da abertura ao ponto final.
Segundo o tal meme, “a gente percebe as cruéis intenções do governo quando ele nomeia uma mulher machista para as mulheres, um negro racista para os negros, um ator inculto para a cultura, um ecocida para o meio ambiente, um ignorante para a educação e um negacionista para a saúde”. Coisas do bolsonarismo, segmento que aplaude os questionamentos à ciência e ovaciona a afirmação falsa do presidente sobre a correlação da vacina contra a Covid com a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (Aids). Originários do bolsonarismo, os bolsonaristas são, conforme outro meme engraçado, aqueles que faziam churrasco falando mal de Luiz Inácio e agora comem pé de galinha apoiando Bolsonaro. É a prova daquela velha tese usada por quem faz horóscopo: questões do passado podem prejudicar nosso presente. E como! Aliás, por falar em Porcina, tem treta na vida de Flávia.