Risoleta era famosa por ser mulher de negócio. Mas não pense você que era qualquer mercancia. Não mesmo! Era algo que mexia com os desejos e luxúrias de toda aquela cidade no sertão nordestino, envolvendo desde o mais simplório dos cidadãos até o de maiores posses.
Casa de Família. Pois é, era esse o nome do comércio da senhora Risoleta. Nome mais apropriado não havia, apesar de certas línguas ferinas contestarem o lema do estabelecimento: “O prazer do cliente acima de tudo”.
Entre os insatisfeitos, encontrava-se dona Neusa, esposa do seu Viriato. Este, apesar de já passado dos 80 anos, era dos mais assíduos frequentadores do afamado lupanar. Não era por acaso que a mulher andava possessa com a Risoleta. Por conta disso, dona Neusa, naquela manhã de domingo, resolveu ter uma conversa de mulher para mulher com a dona da Casa de Família.
A esposa do seu Viriato, já com o pé na calçada, avistou a alcoviteira caminhando para a igreja. Isso mesmo! Para a igreja. E não é que a proxeneta teve a audácia de entrar no recinto religioso? Pois é, disparate maior não podia!
Dona Neusa, tomada de fúria justa, foi ao encalço da cafetina, que, sem qualquer pudor, estava sentada justamente no banco em frente ao padre. Que atrevimento! Obviamente que dona Neusa, católica fervorosa que era, não poderia fazer um escândalo bem ali na casa do Senhor.
Missa de domingo é longa e aquela pareceu durar uma eternidade. No entanto, assim que o padre encerrou a palavra, o público foi saindo aos poucos. Todavia, Risoleta foi dar um dedo de prosa com o pároco, certamente em busca de redenção de tantos pecados. Conversa vai, conversa vem, a mulher beijou a mão do religioso e, já do lado de fora da igreja, foi abordada por uma impaciente dona Neusa.
— Preciso conversar com a senhora.
— Comigo?
— Sim! Com a senhora!
— E quem é você?
— Sou a esposa do Viriato.
— Viriato? E quem é esse Viriato, mulher?
Dona Neusa sacou da bolsa uma fotografia do marido e a mostrou para Risoleta.
— Ah, o Vivi.
— Vivi?
— Sim. Ele é o mais querido mingau de aveia que frequenta o meu estabelecimento.
— Mingau de aveia?
— Sim. É que dividimos nossos clientes entre mingau de aveia e mucilon.
— Que história é essa?
— Mucilon é como chamamos os novinhos, os mais impetuosos. Mingau de aveia é um jeito carinhoso de nos referirmos aos velhinhos que já aposentaram o amigo. Então, a senhora pode ficar tranquila, pois o seu marido só vai ao meu estabelecimento para conversar e tomar um drink com as minhas garotas.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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