Flávia Albuquerque
As sociedades brasileiras de Diabetes (SBD), Hepatologia (SBH) e Infectologia (SBI) lançaram nesta quinta (20) a campanha de conscientização Na ponta do dedo – faça o exame, por trás da Diabetes tipo 2 pode estar a Hepatite C. O objetivo é estimular a população a fazer o exame que detecta o vírus da hepatite C.
Segundo as entidades, estudos mostram que o vírus da hepatite C é capaz de gerar alterações na insulina, impedindo a regulação do metabolismo da glicose no organismo. Pacientes com essas alterações têm quatro vezes mais chance de desenvolver o diabetes tipo 2.
A campanha foi lançada hoje para aproveitar o Julho Amarelo, mês de prevenção e controle das hepatites virais, e a proximidade com o dia 28 de julho, data instituída pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o Dia Mundial de Combate às Hepatites Virais.
Segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologia, há no Brasil cerca de 2 milhões de portadores do vírus da hepatite C, dos quais 70% desconhecem que têm o vírus e 10% são tratados. Cerca de 90% das pessoas que adquirem o vírus não desenvolvem a doença. Aqueles que a desenvolvem, muitas vezes descobrem tarde demais, quando as complicações já estão avançadas, já que o aparecimento de sintomas é muito raro. Além do diabetes tipo 2, pacientes com hepatite C têm propensão a desenvolver câncer de fígado, cirrose e doenças cardiovasculares.
Já o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Sérgio Cimerman, disse que a hepatite C tem diagnóstico fácil, mas os profissionais da área muitas vezes não têm conseguido explicar à população a gravidadeda doença devido às complicações, havendo necessidade de diagnóstico precoce. “Com o diagnóstico precoce, conseguimos instituir um tratamento com drogas disponíveis no mercado e no Sistema Único de Saúde (SUS). A cura pode chegar em torno de 98%”.
Segundo o presidente da SBD, Luiz Turatti, boa parte dos médicos e da população não sabem ou não fizeram a ligação entre as duas doenças. Segundo ele, o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de portadores de diabetes, ficando atrás apenas dos EUA, China e Índia. “Hoje, no Brasil, há 14 milhões de doentes e, em 25 anos, o número pode aumentar em 50%. Se nada for feito, haverá impacto da relação entre as duas doenças a longo prazo”.
Segundo o professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Edison Parise, por muitos anos os médicos acreditaram que a hepatite C afetava apenas o fígado, mas a doença interfere em outros sistemas do organismo. “Hoje, sabe-se que o vírus da hepatite C é capaz de interferir na efetivação da ação da insulina, e isso começa a desencadear o diabetes. Quando se elimina o vírus da hepatite C, a resistência à insulina desaparece. Quanto mais resistência insulínica, maior vai ser a lesão no fígado, acelerando a progressão da hepatite”.
O presidente da SBH, Fábio Marinho, informou que o exame para detectar a hepatite C é simples, rápido e essencial para encontrar esses pacientes.
Para fazer o teste anti-HCV, que serve para detectar a doença, basta uma pequena quantidade de sangue, a partir de uma picada no dedo. O tratamento consiste no uso de um medicamento com pouco ou nenhum efeito colateral, que deve ser tomado duas vezes ao dia, durante três meses. O remédio também está disponível no SUS.
“Se não encontrarmos os doentes e tratarmos, teremos muitos casos de câncer, muitas mortes relacionadas ao fígado, muita descompensação hepática, como cirrose.”
Para obter mais informações basta acessar o site da campanha, que também está disponível nas mídias sociais.