Os quatro anos do governo de Rodrigo Rollemberg serviram, entre outros gastos tidos como supérfluos, para distribuir mais de R$ 318 milhões em propaganda e publicidade institucional. É menos que na administração anterior (cujo gasto total é difícil de calcular em razão da falta da transparência e de publicação das despesas, apesar de ser previsto em lei desde 2010).
Mesmo assim, o montante não deixa de impressionar, particularmente em época de declarada austeridade nas contas públicas. E este total só se refere à administração direta. Caesb, Ceb, Terracap, cada um destes órgãos também mostrou suas cores e seus feitos na mídia local, nacional e até mundo afora.
As campanhas governamentais têm duas funções. As de “utilidade pública” são destinadas a informar sobre calendário de impostos e campanhas da Secretaria de Saúde ou de Educação. As “institucionais” comunicam à sociedade as realizações consideradas importantes. São conhecidas e reconhecidas pelos filmes de TV que apresentam cenários bonitos de cidade bem cuidada onde todos os serviços públicos funcionam a contento.
Aparecem na hora da arrecadação do IPVA e do IPTU, convencendo o contribuinte a cumprir seu dever tributário. Prometendo em troca escola, hospital e vias novas. Na realidade, a arrecadação desses dois impostos, somados, mal cobre o pagamento de dois meses da folha dos servidores.
Cerca de 40% da verba permanecem destinados às emissoras de televisão, primeiro item da lista, à frente de jornal e produção. Os gastos em produção, por sinal, estão inflacionados justamente pelo custo de realização dos filmes e das cópias de VT. Alguns se aproximam do milhão de reais, dinheiro que muitos filmes brasileiros de longa metragem não têm.
Será mesmo que a televisão continua com essa bola toda, não só em termos de audiência, mas sobretudo de credibilidade? Será mesmo que realizar uma produção de alta nível de 30 segundos para passar no intervalo da novela faz o telespectador esquecer a realidade de sua luta diária?
A propaganda comercial visa a criar a vontade de compra de um produto ou serviço. Ela não tem limites, pode apelar para sentimentos, ilusões, magias, até mesmo absurdos. Ainda mais porque quem a banca são os acionistas daquela empresa.
Mas a comunicação pública deve educar, informar e explicar. Não tem nada a vender. Nem mesmo a eventual competência dos governantes do momento. Criar uma cidade de faz-de-conta e mostrar por computação gráfica que todos os problemas estão resolvidos, ou estarão em breve, não parece nem mais acertar o alvo.
A população mais jovem está revolucionando a forma de consumir informação. Muita gente mal assiste à TV. Muitos nem têm u aparelho. Jornais impressos ainda brilham nos gabinetes e nos escritórios chiques. Mas as repercussões de suas matérias se fazem mesmo nas redes sociais e veículos virtuais. Então, os cerca de R$ 120 milhões pagos em propaganda às TVs e aos jornais no último governo se justificam mesmo? Sendo dinheiro público, se o contribuinte fosse consultado, teria autorizado tal despesa, ou preferido construir um hospital com a mesma quantia?
A divulgação governamental precisa passar por várias reflexões. Para quem é feita, por quais meios, para qual resultado. A novos tempos, novos meios de comunicar.
A propósito, vale lembrar que o total de despesas pagas nos quatro anos da administração Rollemberg, segundo os 16 balanços trimestrais publicados no Diário Oficial do DF, é de R$ 318.832.813. No entanto, parte desse montante é referente a propaganda e publicidade do governo de Agnelo Queiroz, que deixou restos a pagar de 2014. Por outro lado, a administração passada empenhou cerca de R$ 6 milhões para apresentar seu balanço no fim do ano, que Ibaneis terá que pagar.
Aliás, os feitos de Ibaneis Rocha, por enquanto, nem vão poder aparecer. É que enquanto gastava mais de 100 milhões por ano, Rollemberg deixou no Orçamento de 2019, para seu sucessor, apenas 43 milhões, que ficam reduzidos a 37 milhões, considerados os 6 milhões que ficaram pendurados.
Dinheiro que terá que ser bem administrado por ordem expressa do governador. Filmetes e tais, nem pensar.