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Nós ou eles

Volta de Donald Trump conservador é recado duro para Lula progressista

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Autor/Imagem:
Misael Igreja - Foto de Arquivo

A posse de Donald Trump foi um dia carregado de simbolismo em Washington. Com sua inconfundível cabeleira loira e o mesmo tom de voz que os Estados Unidos já conheciam há muitos anos, ele subiu novamente à tribuna como presidente. A multidão o aplaudia com fervor, enquanto ele, com gestos teatrais, sinalizava que o show não era apenas para os americanos, mas para o mundo.

Em seu discurso de posse, Trump não demorou a mirar alvos além das fronteiras. Após prometer uma “nova era de grandeza americana”, sua retórica tomou um boato familiar: o combate ao que ele chamava de “agenda global progressista”. E foi então que o Brasil entrou em cena.

“Luiz Inácio Lula da Silva”, deu a entender Trump, mesmo sem pronunciar o nome com um sotaque carrehgado, está na mira de aça. Para o novo líder americano, o Brasil precisa entender que o mundo está mudando. Ou vocês (o Brasil) se alinham a um modelo global conservador, ou terão que lidar com isso a seu modo. Foi como quem dissesse Sul Global (Rússia, China, Brics, enfim) ou nós, ou seja, eles, os americanos.

A mensagem foi clara. Trump não vê o Brasil como apenas mais uma nação no tabuleiro geopolítico. “A América do Sul precisa do Brasil forte, mas dentro das nossas regras, disse Trump nas entrelinhas. “Não são os Estados Unidos que precisam de vocês. Sejam líderes em sua região, mas líderes que entendam a postura do trumpismo”.

Uma parte específica de sua fala ecoou de maneira mais forte ao sul do Equador. Olhando diretamente para as câmeras, com gestos calculados e a mão direita pontuando suas palavras, Trump lançou uma mensagem clara a Luiz Inácio Lula da Silva. “É hora de escolher um lado. A América não precisa do Brasil. A América é a América”.

Lula, em Brasília, assistiu ao discurso no Palácio da Alvorada. O presidente brasileiro, habituado a lidar com figuras políticas controversas, presenciou a tudo uma notável ironia e ceticismo. Ao lado dele, sua equipe de assessores discutiu a resposta diplomática. Um ministro brincou: “Ele realmente acredita que somos dependentes deles? Acho que ele esqueceu o quanto exportamos para a economia dele”.

Nas ruas brasileiras, a ocorrência foi errada. Nas redes sociais, hashtags como #BrasilIndependente e #TrumpFiqueNosEUA disputavam espaço com memes que comparavam a cena a um episódio de reality show. No entanto, uma mensagem de Trump ressoava entre os que acreditam que o Brasil deve se alinhar mais estreitamente com os Estados Unidos.

A verdade é que o recado de Trump não foi apenas para Lula, mas para toda a América Latina. Ele sabe que a região enfrenta desafios internos profundos e que um discurso como aquele poderia dividir opiniões – exatamente como ele fazia em casa.

Enquanto isso, no hemisfério sul, o debate sobre soberania e alianças estratégicas ganha força. Lula, experiente, sabe que a resposta ao novo governo americano exigirá equilíbrio: firmeza para reafirmar a independência brasileira, mas pragmatismo para preservar interesses econômicos e políticos entre os dois países.

A posse de Trump marcou não apenas o retorno de um líder polarizador, mas o início de uma nova fase de oposição global. E, como em outros momentos da história, o Brasil estava no centro de um palco que nunca pediu para estar, mas que sempre se postou na hora errada e no lugar errado.

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Misael Igreja é analista político de Notibras

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