Que nem hamster na roda
Vontade de mergulhar em águas frescas, mas no Paranoá, não dá
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emHoje acordei indisposto. E pensar que logo ontem estava que nem hamster dando voltas intermináveis naquelas rodas, ritmo frenético que nem… Que nem? Ah, que nem textos daquele escritor gaúcho… Melhor nem falar quem. Vá que alguém comece a me xingar? Nem sei se você já leu, mas vou logo avisando que o rojão é daqueles que provocam o maior estrondo. Emoção à flor da pele. Não nasci com aquela coragem toda que ele possuía de se expor. Covarde que sempre fui, prefiro me esconder atrás das minhas personagens.
Do jeito que estou, que me venha um poema ou um conto do Daniel Marchi. Melhor poesia, que me transporta para algo que pinga fora da prosa. Ademais… De onde tirei esse ademais? Que seja ademais. Então, ademais, poesia me perturba a mente, que vaga toda vagabunda por ruelas tipo aquelas próximas ao Centro Cultural Banco do Brasil no Rio. Conhece? Pois deveria.
Ando desgostoso, não da vida, mas da humanidade. Que lástima ter nascido preso ao corpo de uma espécie tragicamente fracassada. Que duraremos pouco, não tenho dúvida, só não calculo o estrago que ainda poderemos fazer. Enquanto isso não chega, e creio que ainda levará algumas gerações, estou aqui apreciando meu café gourmet, ao mesmo tempo em que ouço os vizinhos gritando gritos aos berros.
Aliás, dia desses, lá estava no Uber, quando resolvi puxar assunto com o motorista. Quanta asneira em míseros quilômetros! É incrível a capacidade que um homem possui de juntar tantas e tantas bobices numa só mente. Somente numa!
Por sorte, na volta, peguei outro motorista, este esclarecido. Contei-lhe sobre a viagem anterior, o que o fez gargalhar, mas, logo em seguida, ficamos taciturnos. Pois é, taciturnos, macambúzios, quietos, olhando para o trânsito que ia e vinha, como se alguns carros quisessem fugir, enquanto outros talvez desejassem nos atingir em cheio. Isso é que dá ter consciência de que não temos mais jeito.
Tudo está aqui dentro, mas nada acontece. Uma hora essa vida tosca acaba. Só desejo estar confortavelmente acomodado em uma rede preguiçosa na varanda, sonhando com a praia, que desejo estar logo em frente, o barulho das ondas quebrando. Se o tempo ajudar, arrisco até um tchibum. Mas no Paranoá, não dá.
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*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.