De acordo com o Censo Demográfico de 2022, já somos 203 milhões de pessoas no Brasil. Considerando a segunda sessão do julgamento de Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral, realizada na noite dessa terça-feira (27), somos 203 milhões de brasileiros loucos para saber que tipo de recado o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, atravessou para o ministro Raul Araújo, que votaria na sequência do relator, Benedito Gonçalves, que abriu a lista em favor do jubilamento do ex-presidente que nada fez porque nada sabia fazer. O que estava escrito naquele papelucho? Será que foi algo como ou dá ou desce? Será que foi algo como corto-lhe o pinto se votar a favor do Jair?
Pode ter sido qualquer coisa, inclusive nada. Do alto do meu conhecimento jurídico, acredito que tenha sido alguma coisa como vai lá, mostra o que você aprendeu nos treinos e faz a alegria da galera. Difícil saber. Na verdade, só Deus, Xandão e Dom Raul sabem. Melhor que não saibamos. Importante é que Raul Araújo deu a deixa. Questionado se queria votar após Benedito ou deixar para a manhã desta quinta-feira (29), preferiu a segunda opção. O que não quer dizer nada para quem nada sabe do Judiciário. Eu, por exemplo. Entretanto, como ninguém deixa para fazer amanhã o que pode fazer hoje, provavelmente ele não pedirá vista, acompanhará o relator, abrirá uma sequência desfavorável a Bolsonaro e aí, tchau, querido, tchau. Até nunca mais!
Nesse caso, independentemente do posicionamento do nosso impenetrável ministro Nunes Marques, estará formada maioria absoluta em favor da Corte Eleitoral, acusada por Jair Messias de fraudes eleitorais de todo tipo. O resumo da ópera é simples: feriu com ferro e tomou ferro. Quem ainda acredita em duendes, bruxas e Vasco campeão, certamente crê em reviravoltas no TSE. Perdão pela redundância, mas não há hipótese de tal hipótese. Lendo com um mínimo de atenção o voto do rubro-negro Benedito Gonçalves, não resta dúvida de que, após a decretação dos 8 anos de inelegibilidade, virão os questionamentos penais. O que quer disso? Banditismo. Simples assim.
Os fundamentos do voto beneditino são absurdamente claros. Entre outras peripécias criminosas e vários atropelos às leis (tudo com dinheiro público), a convocação da reunião com embaixadores mentir descaradamente e esculhambar em rede nacional o sistema de votação brasileiro e o 8 de janeiro são passíveis de prisão e de ressarcimento aos cofres públicos. Benedito Gonçalves não deixou por menos. Xandão também não deixará. Restará à Procuradoria-Geral da República e ao Tribunal de Contas da União darem sequência às lógicas, óbvias e definitivas afirmações do relator do jubilamento de Bolsonaro da vida pública.
E com o provável resultado de 6 a 1 a favor do expurgo de Jair (quem sabe um 7 a 0), nem adianta pensar em recursos futuros ao Supremo Tribunal Federal. Basta lembrar o desfecho do vandalismo de 8 de janeiro, para que tenhamos certeza de que lá o buraco será bem mais profundo. Durante o julgamento de terça-feira, a questão de somenos importância foi a absolvição do subserviente general Braga Neto, ex-interventor no Rio de Janeiro, ex-candidato à vice-presidente na chapa do Partido das Lágrimas (PL), ex-subcomandante do Palácio do Planalto e, agora, ex-merecedor de confiança na alta corte da caserna.
Como diria Melhoral, um adorável maluquete que habitou minha prodigiosa infância no subúrbio do Rio de Janeiro, a dupla BB (Bolsonaro e Braga Neto) acabou, morreu, escafedeu-se. Criaram tantos inimigos imaginários, inventaram tantas conspirações que acabaram sem núpcias. Morreram de mãos dadas na praia. Exposta na bandeja há meses, a cabeça oca do mito talvez não espirre para uma cova rasa. Talvez seja servida nas varandas embandeiradas dos golpistas ainda soltos.
Triste o fim de alguém que fez de tudo para se desfazer da democracia. Pelo menos hoje temos uma maioria de 203 milhões brigando pela democracia e gritando a uma só voz: Tchau, tchau, querido. Acabou, morreu.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978