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Voto de Xandão pode virar apostila para advogados

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, durante coletiva de imprensa no Centro de Divulgação das Eleições.

Um marco para o Supremo e para o Judiciário brasileiro, além de exemplo para os patriotas metidos a heróis nacionais, os dois dias de julgamento dos três primeiros bandidos envolvidos na barbárie de 8 de janeiro tiveram dois momentos bem distintos. Digno de registro em todos os anais da República ordeira, o primeiro foi o brilhantismo e o didatismo do voto do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, condenando os birutas da Praça dos Três Poderes. Vergonhoso, patético e assustador do ponto de vista do “profissionalismo”, o segundo foi a sustentação oral dos causídicos “contratados” para defender os acusados e acusar a Corte Suprema de julgar politicamente marginais comuns.

Cultural e juridicamente leigos, com o mesmo DNA da imbrochabilidade e claramente recém-embarcados na canoa oabeniana, os “doutores” não sabiam a quem defendiam, o que dizer, como dizer, tampouco a razão pela qual os ministros do STF não usam solidéu. Entretanto, a bobagem que certamente lhes custará eventuais honorários foi confundir alhos com bugalhos, mais especificamente as obras de Nicolau Maquiavel (O Príncipe”) e de Antoine de Saint-Exupéry (O Pequeno Príncipe).

Se tivessem mais tempo na tribuna, talvez tivessem confundido cristão com um Cristo grandão. Talvez até chamassem Jesus de Genésio ou Confúcio de Pafúncio. O fato é que, paralelamente ao discurso de ódio contra os ministros, notadamente Alexandre de Moraes, os jurisconsultos sob análise protagonizaram, ao vivo e em cores, um dantesco e grotesco espetáculo. Estivesse ainda circulando pelos gabinetes do STF, pediria todas as vênias para sugerir ao meu, ao seu, ao nosso Xandão, magistrado que hoje goza da intimidade da maioria dos brasileiros, para transformar seu voto em apostila.

Feito isso recorreria à OAB, solicitando a distribuição do texto compilado aos pobres, inoperantes, inodoros e insossos advogados dos executores do fracassado golpe. É claro que não estou exigindo que eles tenham a mesma sapiência das excelências do tribunal (obviamente que nem todos a tem), mas, a exemplo de boa parte dos ministros, fiquei envergonhado com o excesso de asneiras produzidas em tão pouco tempo de sustentação oral. Desconhecendo o nome de seus “clientes”, os causídicos estavam mais preocupados com a defesa própria, em aparecer para as redes sociais e com a exigência de cumprimentos pessoais.

Pobres moços e moça. Cresçam, aprendam e reapareçam. Se não conseguirem, desapareçam. E não adianta ter sido armador, encanador, enganador ou desembargador. Nunca parem de aprender, pois a vida e Xandão estão sempre dispostos a ensinar. Sem margem de erro e com base especificamente no que o Brasil e o mundo assistiram nos dois dias de julgamento no STF, faço minhas as palavras de um chato e carrancudo chef francês: “Vocês são a vergonha da profission.” Diria mais aos nobres “advogados”: Não desistam dos vossos sonhos. Se acabou numa padaria, procure em outra.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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