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Geraldo Seabra Escreve

Washington impõe ordem ao Brasil, Brasília silencia e Pequim puxa as orelhas

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Geraldo Seabra - Foto de Arquivo

A diplomacia brasileira silenciou diante da defesa que a Embaixada da China em Brasília fez do Brasil diante de uma agressão do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, que numa interferência na soberania nacional disse que o Brasil deve “avaliar os riscos” do aprofundamento das relações comerciais com a China.

Nessa segunda-feira (28), o assessor internacional do Palácio do Planalto, embaixador Celso Amorim, baixou ainda mais a crista para o governo norte-americano ao negar adesão do Brasil ao programa trilionário de investimentos chineses, conhecido como Nova Rota da Seda, ou Iniciativa Cinturão e Rota.

Na última sexta-feira (25), a Embaixada da China divulgou um comunicado criticando o que considerou uma tentativa dos Estados Unidos de interferir nas relações dos governos brasileiro e chinês.

A nota foi divulgada após Katherine Tai, representante comercial do governo Joe Biden, afirmar que o Brasil deve analisar “os riscos” do aprofundamento das relações comerciais com a China, noticiou o G1.

Katherine Tai fez as considerações ao participar de um evento em São Paulo, organizado pela Bloomberg, quando falava sobre a iniciativa Cinturão e Rota.

Conhecida como “Nova Rota da Seda”, a iniciativa foi lançada em 2013 com o objetivo de aproximar a China de outros países por meio de investimentos, acordos comerciais e projetos de infraestrutura, entre os quais estão negócios sobre rodovias, ferrovias, oleodutos, gasodutos e obras no setor energético.

Em seu documento, a embaixada chinesa diz que os Estados Unidos fazem comentários “irresponsáveis” sobre a relação sino-brasileira.

“Recentemente, uma alta autoridade do governo dos Estados Unidos que esteve no Brasil […] emitiu comentários irresponsáveis sobre o debate brasileiro para cooperações relacionadas à Iniciativa ‘Cinturão e Rota'”, afirma a nota.

“Tal ato carece de respeito ao Brasil, um país soberano, e despreza o fato de que a cooperação sino-brasileira é igualitária e mutuamente benéfica. Por este motivo, manifestamos nosso forte descontentamento e veemente oposição”, completa o documento assinado pela porta-voz da embaixada da China no Brasil, Shi Yong Ren.

O comunicado diz ainda que o Brasil “merece ser respeitado” pelos Estados Unidos por ser uma “grande nação” que defende sua independência e tem grande projeção internacional.

“O Brasil não precisa que outros venham lhe ditar com quem deve cooperar ou que tipo de parcerias deve conduzir. A China valoriza e respeita o Brasil desde sempre”, diz a porta-voz.

Apesar da firmeza da manifestação da Embaixada da China na defesa dos seus interesses junto ao Brasil, o Itamaraty silenciou, como se nada tivesse a ver com o assunto.

Em vez disso, por meio de uma entrevista do embaixador Celso Amorim ao jornal O Globo, nesta segunda-feira, a diplomacia brasileira parecia render-se à queixa dos Estados Unidos e ensaiou um recuo nas relações comerciais com a China, deixando em aberto a possibilidade de adesão do Brasil à Nova Rota da Seda.

“Eles (os chineses) falam sobre cinturão, mas não é uma questão de aderir. Eles dão os nomes que eles quiserem para o lado deles, mas o que interessa é que são projetos que o Brasil definiu e que serão aceitos ou não”, esnobou Amorim em sua entrevista ao jornal carioca.

Amorim participou de uma missão à China, na semana passada. O objetivo foi conversar sobre a visita de Estado que o presidente chinês, Xi Jinping, fará ao Brasil, no próximo mês, à margem da cúpula de líderes do G20, que acontecerá no Rio de Janeiro.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, responsável por 30% das nossas exportações, com um comércio bilateral em torno dos US$ 100 bilhões, superando Estados Unidos e Argentina. A China também é uma das principais fontes de investimento externo no Brasil, com chineses à frente de grandes projetos de infraestrutura e logísticos.

A relação entre os dois países se estende a outros campos, como: Apoio à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma iniciativa liderada pelo Brasil, Cooperação tecnológica, Diálogo entre os povos e Promoção da governança climática global e da transição energética.

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