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Lado B da Literatura

Wenceslau Araújo, desde pequeno, mantém velho hábito de fazer xixi na cama

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Autor/Imagem:
Cassiano Condé - Foto Acervo Pessoal

Se o José Seabra pode ser considerado o coração do Notibras, certamente cabe ao Wenceslau Araújo se apoderar do fígado, ainda mais porque adora destilar veneno para todos os lados. Ele precisa ter cuidado apenas para não morder a própria língua.

Não pense você que desgosto do Wenceslau. Pelo contrário, já que somos amigos antes mesmo do aparecimento do ábaco. Ábaco? Exagero à parte, ainda mais porque creio que os jovens com menos de 70 anos desconheçam tal ferramenta utilíssima para os antigos matemáticos.

De Wenceslau para Wenceslau, nada pode ser normal, mas tudo tem de parecer natural. Do lado vermelho e preto do Rio de Janeiro, vive entre dois dilemas: o sagrado e o profano. Sabe aquele tipo que comete todos os pecados durante o carnaval, mas busca perdão na Quaresma?

Wenceslau é carioca. Aliás, apesar de ser carioca, foi gestado em ventre alagoano, veio ao mundo de parto natural, mais precisamente de cócoras. Como o meu amigo gosta de dizer, não nasceu, mas foi ejetado.

Aos que conhecem esse gênio da labuta de escrever as crônicas mais disputadas do Notibras, talvez não imaginem que Wenceslau, sujeito com samba nos pés, é amante à moda antiga, macho alfa sem meio termo, cisgênero com H e monobígamo, que vive à espera do milagre reencarnatório do bilau acrescido de pelo menos meio centímetro. No entanto, como coisa pouca é bobagem, não perde a oportunidade de fazer piada, principalmente consigo mesmo, pois sabe que nada se leva desta vida.

Wenceslau, assim como a maioria da nossa geração, é essencialmente analógico. O gajo insiste em afirmar que, por falta de companhia, se autodesvirginou aos 12 anos. Todavia, o primeiro rocambole com gosto de Danoninho só foi alcançado na festa de 15 anos. Pois é, meu amigo, o tempo passou depressa demais, a idade chegou. Não é só você que está num momento vaidoso, de crocância. Digo isso porque, entre um e outro lance, sei que você demarca território, como muitos da nossa idade, fazendo xixi na cama.

Mas não pense você que nosso herói da resistência se aposentou dos enlaces com o sexo oposto. De jeito nenhum, de jeito maneira! Sem detalhar o fato, cavalheiro que é, a última mulher com a qual dançou o Besame Mucho foi a Estátua da Liberdade. Ainda mais porque, como todos que acompanhamos seus escritos, está longe de ser Dona Candinha: “Não admito que me rotulem de fofoqueiro. No máximo, sou um historiador da vida alheia.”

Wenceslau Araújo, um dos pilares do Notibras, além de jornalista e cronista dos melhores da praça, também é filósofo: “O silêncio obrigatório não impede a ser humano algum de incorporar espíritos do passado para concluir que o mundo mudou, mas continua o mesmo.”

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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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