Isabela Bonfim
Quando Wendell Lira desembarcou na tarde desta quarta-feira no aeroporto Santa Genoveva, com cinco horas de atraso, mais de 300 torcedores do Vila Nova gritavam o seu nome. Dois dias depois de derrotar o argentino Messi e o italiano Florenzi na disputa pelo troféu de gol mais bonito de 2015, o atacante estava de novo em casa.
O primeiro abraço foi na mãe, Maria Edileuza, e também o mais longo. “Minha mãe é tudo na minha vida. Ela abdicou de tudo para que eu e meu irmãos pudéssemos realizar nossos sonhos. Só tenho a agradecer a ela”, afirmou.
Depois de abraçar os irmãos e matar a saudade da filha Marcela, de dois anos, que não pôde viajar com ele e a esposa para Zurique, posou para fotos segurando o choro. Agarrado ao troféu Puskas, Wendell foi em direção aos jornalistas. “Mudou tudo na minha vida. Foi como um furacão que passou, mas que veio para o bem.”
O gol foi marcado com a camisa do Goianésia em março do ano passado em uma partida pelo Campeonato Goiano. Quando Wendell foi indicado ao prêmio da Fifa estava desempregado, ajudava na lanchonete da mãe e também vendia panos para poder comprar fralda e leite para a filha.
De lá para cá, foi contratado pelo Vila Nova, levou a esposa para a cerimônia da Bola de Ouro na Suíça e realizou a viagem de lua de mel que não puderam ter antes. Conheceu pessoalmente os ídolos Cristiano Ronaldo, Kaká, Marcelo e Neymar, entre outros badalados nomes do futebol internacional. E, para finalizar, derrotou o melhor jogador do mundo, Lionel Messi, na disputa pelo gol mais bonito do ano.
“A minha história é também a história do João, da Maria e de todo brasileiro, que se esforçou e passou dificuldade para ter um pouquinho de felicidade na vida. O futebol é um esporte carente e eu espero ser um exemplo aos muitos jogadores que jogam porque têm uma família para criar”, afirmou. Hoje Wendell volta para casa como a nova celebridade nacional e já chovem propostas de contratos internacionais, confirmados pelo empresário durante rápido almoço com o jogador durante conexão em São Paulo.
Mas Wendell garante que, por enquanto, ainda fica no Vila Nova. “Meu foco é o Vila, quero ajudar o time a conquistar o Estadual e subir para a Série A”, afirmou. Mas ponderou que “se a proposta for muito boa, vai ser boa para o Vila também”. O presidente do clube, Guto Veronez, confirmou que os direitos federativos do jogador são do time e que não houve nenhuma proposta oficial ainda.
Veronez também negou que a multa pela rescisão de contrato seja entorno de R$ 50 mil, valor mencionado inclusive por alguns assessores do clube. “Não posso dizer, mas o valor é bem mais alto que esse”. Ele conta com Wendell para a estreia contra o Goiás em 31 de janeiro e acredita que só será diferente se houver um assédio muito forte de clubes chineses. Enquanto isso, Wendell volta à rotina normal e treina sexta-feira com o Vila Nova em dois períodos.
Recepção – Com faixas de apoio, as primas Kamila e Karynne Lira aguardavam no salão de desembarque desde 9h. A tia, Jaciara Lira, funcionária do Ministério da Saúde, recebeu liberação no trabalho para acompanhar a chegada do sobrinho. “Lá no trabalho, todos acompanharam a premiação comigo. Hoje me liberaram para vir buscar o Wendell, porque estão todos felizes por ele”, conta Jaciara.
Logo se uniram a elas outras tias, os irmãos, o padrasto e a mãe de Wendell. A chegada estava prevista para a parte da manhã, mas com atraso no voo de Lisboa para São Paulo, ele acabou chegando apenas à tarde. O atraso colaborou para reunir ainda mais pessoas no saguão do aeroporto Santa Genoveva, que já estava tomado também por jornalistas de vários cantos do País. A família, que passou o dia por ali, foi assediada por passageiros, torcedores e repórteres. “Já perdi a conta de quantas entrevistas dei hoje (quarta), se eu não pedisse para parar, ia acabar ficando sem almoço”, disse a mãe, Maria Edileuza.
Com a notícia da chegada do jogador premiado, mais curiosos e torcedores se acumulavam. Roberto Silva, 39, estava de passagem em Goiânia e decidiu esperar para ver a chegada da nova estrela do futebol brasileiro. Ele conta que participou da votação da Fifa, aberta ao público pela internet. “Não poderia deixar de votar. Brasileiro não desiste nunca e ninguém quer ver um argentino na nossa frente”, brinca.
O aposentado Alfredo de Souza, 61, foi ao aeroporto exclusivamente para receber Wendell. “Qual goiano não estaria feliz com a conquista dele?”, indagou. Ele conta que acompanha a carreira do jogador desde que foi revelado pelo Goiás. Questionado se o gol mais bonito foi o de Wendell ou do Messi, ele não teve dúvidas. “O do Wendell, com certeza. O gol do Messi foi trabalhado, mas o gol do Wendell acontece de cem em cem anos”.