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Xandão encarna o apóstolo do último suspiro do bolsonarismo

Brasília - O ministro do STF, Alexandre de Moraes, fala à imprensa após reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A algumas horas de uma mudança que uma minoria acreditava ser impossível há pouco mais de um ano, o Brasil deixará os estágios trágico, cômico e surreal e assumirá um período em que certamente o povo vai respirar ares menos cinzentos e mais solidários. Os surtos de loucura e os atos terroristas deverão sumir junto do grupo quase em extinção denominado bolsonarista. O governo mais maléfico de toda a história do país chega ao fim e não deixará saudade alguma, nem mesmo entre aqueles que o defendia até mês passado.

Boa parte dos defensores mudou de lado após entender a porralouquice que foi a administração Bolsonaro. Pior do que a casa de Mãe Joana, parecia um prostíbulo comandado por soldado de polícia engajado. Vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin definiu a gestão do Jair como um verdadeiro apagão. No português menos ortodoxo, “não existe registro de nada”.

Era o que tínhamos como presidente, era o que milhares de fanáticos queriam reeleger e o que meia dúzia de lunáticos insiste em chamar de mito. Acordamos a tempo graças aos gritos dos seguidores de pelo menos três dos 1 apóstolos do Supremo Tribunal Federal. Um deles foi responsável pela extrema unção do presidente derrotado. E fez isso ao discursar garantindo a rigidez do processo eleitoral durante a diplomação do presidente eleito.

A própria diplomação acabou sendo a pá de cal sobre a cova do coturno do defunto. Após centenas de capítulos com textos desconexos, repetitivos, fundamentalistas e absurdamente fora da legalidade, parece que a novela sucupirana estrelada por um fantasma denominado mito não terá sequer reprise em sessões futuras.

Mais horrendo do que os dramalhões mexicanos, o folhetim passou de uma zica comum ou de uma dengue mal curada a um roteiro virulento, com 30 milhões de esfomeados, cerca de 20 milhões de desempregados, 35 milhões de infectados pela Covid e quase 700 mil mortes em decorrência de uma gripezinha fajuta e que fez parte do script bolsonarista durante aproximadamente três anos. Para sorte do elenco, o astro da novela do absurdo também ficou sem ar exatamente como os coitados que ele imitava.

Os que ainda sofrem com sequelas da doença viram imagens de um caminhão de mudanças estacionado na área externa do Palácio da Alvorada e imaginaram uma miragem. Não era. Com nome pra lá de sugestivo e bastante real, o veículo de uma empresa do ramo estabeleceu o começo do fim de uma era paleontológica, embora de fósseis e raízes desconhecidos.

Nos próximos dias serei compelido a narrar uma retrospectiva do governo Bolsonaro. Estou tentando reunir atos, mas, por enquanto, só consegui fatos. E todos absolutamente irrelevantes política, econômica e socialmente. Relevantes foram as maldades, os desmandos, as sacanagens, as fake news, o exercício de um poder policialesco e autoritário, o ódio destilado contra os que propunham a democracia e a desonestidade cidadã em relação aos brasileiros que não rezavam em sua cartilha. P

or conta disso, agora surgiu o medo de enfrentar espaço similar ao enfrentado por seu antagonista, cujos eventuais erros foram tão infantis ou amadores do que os observados desde a ascensão da troupe terrivelmente honesta.

De A a Z, talvez minha retrospesctiva se limite à coragem do apostolado do STF e do TSE, comandados sagazmente pelo xerife Xandão, o homem da capa preta. Mesmo contra a vontade da meia dúzia que teima em manter a seita funcionando, Alexandre de Moraes virou herói de um povo e, dessa forma, continua descabelando a turma do quanto pior melhor. Na avaliação do quase ex-presidente, na condição de presidente do TSE, Moares beneficiou Lula com decisões ao longo da campanha.

Claro que a análise de Jair Messias é inverossímil. Ele perdeu por uma série de razões. A mais grave foi a falta de votos. Na sequência, os exageros contra os poderes constituídos, as marteladas na democracia, o uso das redes sociais como ferramenta criminosa, a defesa equivocada da família (a sua) e, principalmente, o pouco caso em relação à força política de Luiz Inácio. Apostou errado e se finou. Na verdade, virou pó.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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