O aventureiro, por definição, é um ser individualista e, por consequência, entreguista. É claro que não me refiro aos que se dedicam à aventura como forma de fugir da monotonia. Meu sujeito é aquele que, sem conhecimento algum, se embrenha em uma empreitada de risco. Caso dê certo, ele é o ideólogo das galáxias, o Picasso galudo. Se der errado, foi tudo culpa do além ou dos que estavam a seu lado. Para esse tipo, não existem máximas ou mínimas. Ou é ele ou não é ninguém. Foi assim com o presidente que preencheu sua vida recente com coisas das arábias e não com aventuras em benefício do povo para o qual jurou nunca mentir.
Muito mais estagiário de escoteiro, o político chinfrim que se apresentava como professor de Deus começou suas peripécias acidentais com fortíssimas doses de adrenalina. Montado em jumentos, jet ski, motocicletas ou na cacunda do pobre brasileiro, se afundou na cloroquina e na ivermectina e acabou seus dias de “glória” ajoelhado no milho e tomando goladas de chá de camomila. É o fim da linha de todos os que um dia acharam que um país continental como o Brasil é terra de ninguém ou apenas um parquinho de diversões em promoção anunciada por semanas na Globo Lixo.
O último a pensar assim sequer completou o mandato e teve de escapulir pela porta dos fundos do palácio que ocupou para acabar com os marajás. Ele foi o primeiro e, até agora, o único príncipe feudal a provar do próprio veneno. Se não fugir, o próximo está a um passo da pirambeira. Acho que já é tarde para isso, mas tudo é possível no reino da Brasiléia, onde o fígado faz muito mal à bebida, tudo se cria e quase nada se expia. Aportuguesando a metáfora, é, conforme a brilhante verve do mestre Barão de Itararé, o país que tem tudo de nós, só falta desatar os nós. Falando em aventura, vale registrar que a fuga é o único destino ao alcance dos covardes.
Que me perdoem os patriotas teimosos que não se dão conta da “mercadoria” que compraram. Como sempre prefiro a semântica, digo da maçã podre que escolheram. Dá no mesmo, mas é melhor não ferir suscetibilidades, tampouco despertar a imbecilidade ou a ignorância dos fariseus. O fato é que o Brasil de 213,1 milhões de habitantes esteve entregue a um grupo que não sabia o que era governar, que confundia casa de lenocínio de beira de estrada com igreja evangélica de estrada sem beira e que foi amador até na picaretagem incontestavelmente honesta para eles e seus advogados. O amadorismo quase de berçário lembra as histórias do mineiro que comprou o Pão de Açúcar e a do carioca esperto que adquiriu a Lagoa da Pampulha em uma pechincha de fim de semana.
Além de negociações mandrakes com pastores evangélicos, madeireiros da Amazônia Legal, produtores de vacina contra a Covid, antidemocratas fardados e com golpistas exibicionistas e em férias escolares, ainda se deu ao luxo de recorrer a advogados mal ajambrados para vender, recomprar e devolver joias das arábias cravejadas com toneladas de diamantes. E tudo isso registrado em longas conversas via celulares corporativos ou pessoais. Por isso, faço minhas as palavras do Marquês de Maricá: “Os faladores não nos devem meter medo. Eles revelam-se”. A República do WhatsApp se deu mal e está a um passo da “upgrade”. Em processo de vestibular para um estágio de malfeitos, os aprendizes de picaretas “contrataram” uma deputada oca dos pés à cabeça para, de arma em punho, correr atrás de petista em shopping, para “lacrar” o sistema eletrônico de votação e ainda para “lustrar” os milhares de diamantes da gargantilha confiscada da madame.
Pior foi o advogado metido a lorde inglês, mas que adora se adornar com jaquetões do século XIX e tênis da Feira do Paraguai. Esperto como um rato cego às voltas com uma jararaca, ele foi pego exibindo quatro celulares de ponta, um deles usado exclusivamente para colóquios nada republicanos com o pastor da igreja messiânica do bolsonarismo falido. Paus para toda obra, a deputada e o advogado são apenas a ponta do iceberg com o qual a nau do aprendiz de feiticeiro se chocou e afundou. Os alfarrábios, os zaps, as joias, as rachadinhas, as negociatas escusas e os acertos para o frustrado golpe de 8 de janeiro já estão no bolso da toga do papa Xandão. Também chamada de batom na cueca ou de buzanfa na seringa, a farta documentação é a prova incontestável de que tudo deve mudar quando setembro chegar.