Os que acompanham minhas crônicas sabem que sou casado com a famosa Dona Irene, a mais fanática torcedora do Palmeiras. Moramos em Porto Alegre, mas, de vez em quando, pegamos um voo até Brasília. É uma excelente oportunidade para a minha esposa visitar os pais, bem como para eu encontrar os colegas de Notibras.
Pois bem, da última vez que estivemos na capital, a minha amada e uma das nossas sobrinhas, a Jojô, foram assistir ao jogo entre o Verdão e o Vasco da Gama no estádio Mané Garrincha. Esse evento, aliás, aconteceu no último dia 22.
Frequentadora calejada dos estádios pelo país afora, a Dona Irene proporcionou algo inédito na vida da Jojô, que nunca tinha tido a oportunidade de ir a um jogo de futebol. E lá foram as duas para aquele que pode até não ter a fama do Maracanã, mas carrega o nome do maior jogador das Copas do Mundo, o Anjo das Pernas Tortas, a Alegria do Povo.
Minha mulher e nossa sobrinha chegaram cedo ao Mané Garrincha, tanto é que o local estava quase vazio. E, para surpresa das duas, um senhor de aproximadamente 80 anos se sentou justamente ao lado delas, enquanto milhares de outras cadeiras continuavam vazias. A princípio, a Dona Irene e a Jojô não ligaram, mesmo porque estavam ali para assistir ao time do coração.
O local começou a encher aos poucos até ficar lotado. Pois é, as duas torcidas estavam animadas para ver um dos maiores clássicos do futebol mundial. E, entre todo aquele povo, a Jojô parecia a mais ansiosa. Tanto é que, assim que o escrete alviverde despontou no gramado, ela começou a esgoelar que nem doida. Até a Dona Irene, acostumada com tal situação, não ficou para trás e também berrou que nem uma maluca.
Após se acalmarem, a Dona Irene sacou seu celular do bolso e tirou algumas fotografias, inclusive uma que colocou uma pulga atrás da sua orelha. É que aquele senhor estava com uma fisionomia estranha, como se estivesse contrariado de estar ali. Estaria ele passando mal ou, então, o caso era outro?
A Jojô, curiosa que nem a tia, começou a investigar aquela situação. No entanto, eis que o juiz apita e o jogo inicia. Bola pra cá, bola pra lá, os dois times se estudando nos primeiros minutos. Dessa forma, a atenção das duas torcedoras estava voltada para o campo.
Numa bobeada da defesa do Vasco, o centroavante Flaco López abriu o placar aos 26 minutos do primeiro tempo. A minha mulher e a Jojô pularam, gritaram, se esgoelaram, falaram todos os palavrões conhecidos e inventaram outros tantos, enquanto a estrutura do Mané Garrincha aguentava firmemente todos os demais torcedores palmeirenses fazerem o mesmo. Que alegria!!!
Após alguns minutos, os ânimos se acalmaram e a partida recomeçou. Mas eis que a Jojô cutucou a Dona Irene.
— Tia, reparou que o senhor ao meu lado ficou sentado o tempo todo?
— Não. Será que ele é?
— Pois é… Você sabe que pensei o mesmo?
— Jojô, reparando bem, agora tenho certeza de que ele é.
— Por quê, tia?
— Disfarça e olha a cara dele.
Nisso, a Jojô olhou discretamente para o velho, que estavam com uma expressão de bravo. Ainda desconfiadas, as duas ficaram monitorando o homem para não cometerem alguma injustiça. Vai ver, o cara estava com dor de barriga ou algo do tipo.
Já na segunda etapa da partida, o árbitro marcou uma falta a favor do Vasco. O VAR, em seguida, chamou a atenção da autoridade máxima e disse que o lance teria acontecido dentro da área. E lá foi o juiz analisar o lance e, para alegria da torcida do Palmeiras, decidiu que não foi pênalti.
Não estou aqui para dizer que a decisão foi acertada ou não, mesmo porque não me cabe tal juízo. No entanto, foi justamente nesse momento em que a Dona Irene e a Jojô concluíram as investigações. É que aquele sujeito, sentado ali ao lado, apesar de trajar a camisa do Palestra Itália, começou a xingar o árbitro. Não restava dúvida, ali estava um vascaíno infiltrado na torcida do Palmeiras.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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