Principal nome do atletismo da Rússia, a campeã olímpica do salto com vara Yelena Isinbayeva concedeu entrevista coletiva nesta segunda-feira, em Moscou, para falar do escândalo de doping que atinge o país. A estrela, que passou 2015 afastada do esporte, criticou a decisão da Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF) de suspender a Federação Russa de Atletismo (ARAF, na sigla em russo) e disse que os atletas limpos estão sendo punidos injustamente.
“Por que os que são como eu devem sofrer pelos erros dos esportistas irresponsáveis que optaram por consumir substâncias proibidas? Eu gostaria de me dirigir à IAAF para que investigue de maneira mais objetiva cada caso em separado”, cobrou Isinbayeva. “Eu mesmo darei qualquer análise para demonstrar que nunca consumi nada parecido.”
A IAAF decidiu punir o atletismo russo como um todo e não somente alguns atletas porque entendeu, a partir de um relatório da Agência Mundial Antidoping (Wada) que o doping lá ocorria de forma sistemática, com ajuda do governo, da federação, de técnicos, da agência antidoping e até do laboratório credenciado para fazer as análises.
Entre as suspeitas, está a de que as amostras que poderiam indicar a presença de substâncias dopantes eram substituídas por outras “limpas”, ou simplesmente destruídas. Assim, não haveria como comprovar a lisura dos exames feitos pelos atletas “limpos”
Isso faz com que a dúvida recaia sobre todos os atletas russos, o que inclui Ysinbayeva, ainda que ainda não tenha surgido nenhum indício de que ela fosse uma das integrantes do esquema. “Se qualquer um me acusar, vou levá-lo à justiça. Serei submetida a todos os testes e vou fazer todos os advogados trabalharem para mim”, prometeu.
A dúvida agora é se, caso a ARAF não volte a se credenciar junto à IAAF, os atletas russos do atletismo poderiam competir no Rio-2016 sob a bandeira do Comitê Olímpico Internacional (COI), como já aconteceu algumas vezes na história, incluindo nos Jogos de Londres-2012 e Sochi-2014.
Isinbayeva, entretanto, não confia nessa possibilidade. “Não tenho certeza se competir sob a bandeira olímpica é possível. Isso agora está sendo discutido no círculo esportivo, mas ninguém sabe nada específico”, disse ela.
Nos Jogos de Londres, por exemplo, atletas das Antilhas Holandesas e do Sudão do Sul competiram sob a bandeira olímpica. Na ocasião, entretanto, os quatro haviam obtido classificação para estar nos Jogos, mas não tinham um Comitê Olímpico Nacional para competir – o das Antilhas havia sido dissolvido, o do Sudão do Sul não foi criado a tempo.
No caso do atletismo russo, o problema é que os esportistas estão proibidos de participar de competições oficiais, o que significa que eles não podem fazer os índices necessários para estarem no Rio-2016. Ysinbayeva pretendia voltar às competições em janeiro, no Mundial Indoor de Portland (EUA).