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Zeca Pagodinho se deixou levar pela vida e ganha álbum especial

Zeca Pagodinho deixou a vida o levar – e lá se vão mais de 30 anos de carreira. Para revisitar a trajetória do célebre sambista, a gravadora Universal, em que ele lançou grande parte dos seus discos, acaba de colocar no mercado a caixa Partido-Alto. O projeto reúne 20 álbuns, incluindo, claro, os que têm a chancela da gravadora, de sua estreia bem-sucedida na casa com Samba Pras Moças, de 1995, a Multishow ao Vivo 30 Anos – Vida Que Segue, de 2013.

Há ainda uma compilação inédita, Com Passo de MPB, que entra como CD bônus, agrupando participações de Zeca como intérprete nos trabalhos de outros artistas e em projetos, em que se aproxima da MPB mais tradicional, além de três discos dele em sua fase na BMG: Jeito Moleque, de 1988, Boêmio Feliz, de 89, e Mania da Gente, de 90. E um livreto recupera os detalhes de cada um desses álbuns, com textos do jornalista Cleodon Coelho.

Dessa retrospectiva, ficaram de fora os últimos três discos do sambista pela BMG – Pixote, de 1991, Um dos Poetas do Samba, de 92, e Alô, Mundo, de 93 – e os primeiros discos solos da carreira em sua passagem pela RGE, quando lançou Zeca Pagodinho, de 1986 – e fez sucesso de cara com músicas como Judia de Mim e Coração em Desalinho, vendendo 1 milhão de cópias – e, depois, Patota de Cosme, de 87.

“Desde o início do processo de confecção da caixa, não tínhamos a ideia de trabalhar com toda a discografia dele. O conceito sempre foi o de trabalharmos os discos da casa e homenageá-lo com três de seus lançamentos anteriores ao da gravadora atual”, justifica Alice Soares, gerente de projeto da Universal e idealizadora da caixa. “Sempre pensamos em trabalhar a discografia do Zeca em um único suporte (a caixa) e acreditamos que a oportunidade dos 20 anos de carreira dentro de casa seria um merecido presente para o artista, fãs e colecionadores.”

E Zeca diz que, de fato, se sente homenageado. Ele lembra que foi levado para a Universal pelo produtor Rildo Hora e Max Pierre, então diretor artístico da casa. “Foi quando ascendi de vez”, afirma o sambista, que acaba de voltar de uma turnê nos EUA. Vindo da BMG, ele começava sua jornada lá com o disco Samba Pras Moças, com a força de um repertório que contava, entre outras canções, com a faixa-título (de Roque Ferreira e Grazielle) e o refrão “Incandeia, incandeia, incandeia, incandeia, meu candiá”.

“Com esse disco, comecei tudo de novo, foi um divisor de águas”, conta o sambista. “Sou ali um outro Zeca. Eu já estava com outra cabeça, estava mais como pai, marido, enfim, como chefe de família. Já estava largando um pouquinho a boemia. Um pouquinho. . Já ia mais para estúdio, para ensaio, coisa que nunca fui de fazer.” Isso foi em 1995. No ano seguinte, veio o disco Deixa Clarear e outra canção marcante, Verdade. “Descobri que te amo demais/Descobri em você minha paz/Descobri sem querer a vida/Verdade”, diz trecho da música de Nelson Rufino e Carlinhos Santana. O álbum trouxe outras faixas que se tornariam também grandes sucessos, como Não Sou Mais Disso.

Ao longo do restante da década de 90, desde o já citado Samba Pras Moças, a discografia de Zeca volta a abarcar um título lançado por ano, incluindo ainda Hoje É Dia de Festa, de 1997, Zeca Pagodinho, de 98, e Zeca Pagodinho Ao Vivo, de 99. “Antigamente, era um disco por ano, agora não é mais, não. Agora, o cara faz a cada três anos, é muito difícil”, afirma Zeca. A caixa, dessa forma organizada, põe luz também nos caminhos de repertório que Zeca optou por seguir, seja como cantor, seja como compositor, dos sambas que viram verdadeiras crônicas até canções de amor. Esse lado ‘romântico’ de Zeca, aliás, é colocado em evidência no disco de coletâneas Juras de Amor, de 2000.

Outro recorte digno de nota são os discos ao vivo, muito presentes na trajetória do sambista, que registram a presença dos amigos e o calor das plateias. Zeca gosta desse tipo de registro. “É como se estivesse todo mundo em casa, no terreiro, fica mais fácil.” Nesse segmento, se encaixam perfeitamente os projetos acústicos que ele fez a convite da MTV. O Acústico MTV, de 2003, foi tão bem aceito que, três anos depois, ele se dedicava ao Acústico MTV 2 – Gafieira. A retomada da parceria, num volume dois, entre um artista e emissora musical era algo inédito para o formato acústico. “Se é pelo samba, pela música, por nós mesmos, pelo público, a gente tem de fazer”, diz Zeca. “Só não faço se não acho interessante, e esse projeto com a MTV ficou bem feito.”

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