Zezinho, irreverente, evitava médicos porque eleitor, ele dizia, não vota em doente
Publicado
emJosé Escarlate
Político experiente, de família mineira tradicional, muito arguto e irreverente, o ex-deputado federal por oito mandatos, José Bonifácio Lafayette de Andrada, conhecido nas lides políticas como Zezinho Bonifácio, nos deixou histórias das mais saborosas.
As famílias Andrada e Bias Fortes – UDN e PSD – se rivalizavam, na política de Barbacena e no cenário nacional, desde sempre. A ruptura assumiu proporções dramáticas porque implicou no rompimento de vínculos familiares. Havia uma disputa acirrada entre elas. Dona Vera, mulher de Zezinho, era irmã de Francisca, esposa de José Francisco Bias Fortes.
Quando Francisca, a Dona Queridinha, ia visitar a irmã, Zezinho achava um meio de escapulir. Os concunhados nunca se encontravam. Em fevereiro de 1968, eleito presidente da Câmara, Zezinho teve sua gestão marcada pelo recesso do legislativo, por força do AI-5. Além do medo de viajar de avião, que teve que superar, quando adoecia, se encolhia. Sumia da vista de todos. Ou fingia que estava bem. Ele tinha pavor que o vissem doente.
Uma noite, quando despachava com Paulo Affonso, secretário-geral da Casa, sentiu fortes dores no peito. O posto médico da Câmara era distante. Paulo Affonso pediu uma cadeira de rodas. Zezinho recusou. “Não vou sentar aí para ser flagrado por um desses fotógrafos” – disse. No posto médico, o dr. Renault Matos Ribeiro diagnosticou enfarte agudo do miocárdio.
De outra feita, Zezinho participava de um comício em Barbacena. Passou mal e chamaram uma ambulância. Negou-se a deitar na maca. Dona Vera é que foi deitada nela e ele seguiu ao lado do motorista. Pálido mas fagueiro. Dias mais tarde, justificando, disse que se o eleitorado visse que ele estava em uma ambulância diria que iria morrer, e não votaria nele. E isso o apavorava.