Cientistas da UFRJ, da Unicamp e do Instituto D’Or apresentaram nesta segunda-feira (11), na Academia Brasileira de Ciências, no Centro do Rio, detalhes de sua pesquisa conjunta, iniciada em fevereiro, sobre a correlação entre o vírus da zika e a microcefalia. Segundo os pesquisadores, medicamentos que podem proteger os tecidos neurais de fetos expostos ao vírus já estão sendo testados.
“Estamos trabalhando com medicamentos que são usados para outras situações e que podem ser usados em mulheres grávidas. O teste de novos medicamentos é mais demorado e levaria mais tempo, exigindo um processo de aprovação da Anvisa e outras burocracias necessárias para a liberação do remédio”, afirmou o neurocientista Stevens Rehen, do Instituto D’Or e da UFRJ, um dos responsáveis pelo estudo.
Rehen destacou que o teste de medicamentos que estão no mercado faz parte da necessidade de dar uma resposta rápida a uma questão urgente da sociedade.
Segundo ele, dez remédios já foram testados, e um deles apresenta resultados promissores. A equipe também pretende testar o impacto de diferentes tipos de dieta na saúde das gestantes para saber se a alimentação também pode ser usada como um tratamento.
Os testes são realizados com a ajuda de dois robôs de última geração, capazes de fazer análises celulares em alta escala, para apresentar resultados mais rapidamente.
Para realizar o estudo em 25 dias, entre 6 de fevereiro e 2 de março, quando o artigo foi submetido à revista “Science”, os cientistas se revezaram 24 horas por dia, em dois turnos de 12 horas cada, em dois laboratórios, no Instituto D’Or e na UFRJ.
Redução de 40% no desenvolvimento cerebral
O estudo, considerado fundamental para a compreensão da relação entre zika e microcefalia, mostrou que o vírus é capaz de atacar células cerebrais humanas e reduzir em 40% o desenvolvimento cerebral. Os pesquisadores concluíram que, em apenas seis dias, o vírus da zika já está matando principalmente as células tronco neurais, as mais afetadas, por meio de um receptor chamado AXL.
“Testamos a infecção do vírus por 11 dias, o que equivaleria a um mês de gestação, e percebemos a progressão de destruição de 40%”, afirmou a pesquisadora Patricia Garcez.
Os estudiosos se surpreenderam com a capacidade de destruição do vírus. “Com as células isoladas, nós ficamos surpresos com a progressão da destruição”, comentou Patricia.