Zuleica era afeita a falar da vida alheia. De tão tarimbada, comentava qualquer assunto que tivesse oportunidade de ouvir e, caso não o achasse suficientemente palatável, acrescentava tempero a gosto do freguês. Uma pimentinha aqui, um punhado de coentro ali, um tanto de cebola acolá, sem falar do sal, que, vez ou outra, fazia a pressão arterial dos ouvintes se elevar a tal nível que, não raro, sobrava cobras e lagartos para todo lado.
Quem não se conformava com a mania da mulher era justamente Heraldo, o marido. Cansado de passar desconforto por conta das fofocas da esposa, o gajo apertou o passo para chegar logo ao lar, doce lar. Mal abriu a porta, flagrou a amada tagarelando maledicências com Neide, vizinha do andar acima.
— Que coisa, Zuleica!
— Pra você ver, mulher! Não dá pra confiar em ninguém mais neste mundo.
— É verdade! Coitado do marido da Claudete.
— Coitado nada! Aquele ali também não é flor que se cheire.
— Sério?
— Hum! Se eu te conto, tu cai dura aqui!
— Pois conte, mulher!
De tão entretida com a conversa, as duas amigas quase não perceberam a chegada do homem. Ele beijou o rosto da Zuleica e cumprimentou a convidada.
— Oi, amor! Chegou mais cedo hoje.
— É que não estava me sentindo bem.
— Hum! Aposto que andou comendo besteira de novo.
— Estou melhor agora.
— Hum! Vou preparar um chá de boldo pra você. Quer também, Neide?
— Obrigada, Zuleica. Mas preciso ir, que o Julião já, já chega também.
Após Neide sair, Heraldo, cara amarrada, acomodou-se no sofá.
— Que cara é essa, meu bem?
— Nada.
— Como não é nada?
— Zuleica, que mania feia de ficar futricando a vida dos outros!
— Hum!
— Quando é que você vai parar com isso? O povo vive comentando.
— Heraldo, meu querido, se não fosse o mexerico, a humanidade ainda estaria grunhindo.
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